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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Artigo especial. O Evangelho Segundo o Espiritismo: alguns comentários


Marco Milani. São Paulo, SP

Obra fundamental para todo aquele que deseja compreender e vivenciar a Doutrina dos Espíritos, o Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) tem o seu sesquicentenário celebrado em 2014. Sua relevância, porém, não se situa em sua longevidade, mas em sua atualidade!
Encontramos, no prefácio do livro, a instrução transmitida pelo Espírito da Verdade, na qual ele anuncia que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos, além de convidar os homens a se unirem para fazer a vontade do Pai. Em nota, Allan Kardec afirma que esse é o objetivo do ESE e, também, o verdadeiro caráter do próprio Espiritismo.
Herculano Pires, ao traduzir o ESE do original francês para a versão em português, destaca que esse livro representa um manual de aplicação moral do Espiritismo e oferece a base e o roteiro da religião espírita. Kardec, em novembro de 1868, durante o seu discurso de abertura na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, assim se pronunciou: “Dir-se-á, o Espiritismo é, pois, uma religião? Pois bem, sim! sem dúvida, senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e disto nos glorificamos, porque é a doutrina que fundamenta os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as bases mais sólidas; as próprias leis da Natureza”. Logo, o Espiritismo é uma religião, diferenciando-se da associação que algumas pessoas podem fazer com estruturas formais hierarquizadas, com rituais, dogmas, paramentos e outras características típicas das religiões tradicionais e que não existem no Espiritismo.
E por que o Espiritismo é cristão? Ao se questionar os espíritos sobre o tipo mais perfeito que pode servir de guia e modelo ao homem (O Livro dos Espíritos, questão 625), a resposta foi: Jesus Na Revista Espírita, em abril de 1866, Kardec afirma: “Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a suprema lei do Cristo, abrimos o caminho para o Espiritismo Cristão, e fomos instituídos, pois, em desenvolver os seus princípios, assim como os caracteres do verdadeiro espírita sob esse ponto de vista”. Nesse sentido, o Espiritismo representa o Consolador prometido por Jesus.
É no ESE, em seu capítulo 17 - item 4, que o verdadeiro espírita é caracterizado.  É aquele que busca se transformar porque conhece a sua realidade espiritual e consegue compreender as consequências de seus atos diante de um contexto natural regulado pelas leis divinas. Conforme afirma Kardec, os princípios doutrinários lhe fazem vibrar as fibras que nos outros permanecem mudas; em uma palavra: foi tocado no coração, e por isso a sua fé é inabalável. Assim, o verdadeiro espírita busca se transformar porque conhece a sua realidade espiritual e consegue compreender as consequências de seus atos diante de um contexto natural regulado pelas leis divinas.
Em seus vinte e oito capítulos, encontramos no ESE a orientação ética e moral para o maior objetivo do ser humano: a própria evolução espiritual. O desvendar da realidade do ser e sua relação com o Criador, de suas potencialidades individuais e de suas responsabilidades perante si e para com o próximo é de um valor inestimável, que não somente responde as questões existenciais que sempre angustiaram o homem (quem somos, de onde viemos e para onde estamos indo?), assim como oferece um roteiro seguro sobre o que devemos fazer para alcançar a tão sonhada felicidade, pelo amor e pela instrução.
Edição de O Evangelho Segundo o Espiritismo em  tradução de J. Herculano Pires
A 1ª. Edição foi lançada por Allan Kardec, em Paris, França,  em abril de 1864.
Allan Kardec nasceu em Lião, França, aos 3 de outubro de 1804.
Na foto o Hotel de Ville, a Prefeitura de Lyon. Foto Ismael Gobbo
Ficheiro:Johann Heinrich Pestalozzi.jpg
Pestalozzi, o célebre pedagogo de Yverdum, foi professor de
Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) dos 11 aos 18 anos.
Rio Sena e a Ponte do Carroussel.; a cúpula do Instituto da França e Catedral Notre Dame. Foto Ismael Gobbo
Em Paris Allan Kardec codificou o Espiritismo lançando O Livro dos Espíritos aos 18 de abril de 1857.
Flores nos jardins do  Museu Rodin, Paris. Foto Ismael Gobbo
Ficheiro:Allan Kardec portrait001.jpg
Allan Kardec, Codificador do Espiritismo
(Lião 03-10-1804 / Paris 31-03-1869)

NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA. 26-04-2014.

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http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/26-04-2014.htm

Artigo especial. Evangelho e lucidez “O Evangelho Segundo Espiritismo”


Roosevelt Andolphato Tiago
www.roosevelt.net.br

No livro Obras Póstumas, que é o resultado de vários documentos e demais textos escritos por Allan Kardec e encontrados depois de sua desencarnação em seu escritório, temos uma breve observação sobre a origem de O Evangelho Segundo o Espiritismo, onde teve como título original na primeira edição, Imitação do Evangelho.
            Somente na sequencia da primeira impressão, por influência de seu editor, o Sr. Didier entre outras pessoas, passou ao nome que temos hoje.
            Na expressão Imitação do Evangelho, vemos o desejo do Codificador em evidenciar que o original estaria preservado e que não era de seu interesse provocar alterações nele.

Existe uma nota na obra citada, onde Allan Kardec aponta para o fato de que o novo trabalho ao qual se dedicava (O Evangelho Segundo o Espiritismo) não era de conhecimento de ninguém. A nota diz: “— Eu não havia dito a ninguém o assunto do livro no qual eu trabalhava; conservava o título tão secretamente, que o editor, Sr. Didier, só o conheceu quando da impressão”. 

            Ainda com relação ao nascimento da notável obra, temos um diálogo entre os Espíritos e Allan Kardec, onde falando da obra (até então secreta), ele questiona:
 — O que pensais da nova obra em que trabalho neste momento?

A resposta mostra que o projeto da obra, para os Espíritos, nada tinha de secreto:  — Este livro de doutrina terá uma influência considerável; aí abordas questões capitais, e, não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações nele haurirá excelentes instruções. Fizeste bem em abordar as questões de alta moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida deve ser destruída; a Terra e suas populações civilizadas estão prontas; já há bastante tempo que os amigos de além-túmulo a arrotearam, lança, pois, a semente que te confiamos, porque já é tempo que a Terra gravite na ordem irradiante das esferas, e que saia, enfim, da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Termina tua obra, e conta com a proteção do teu guia, o guia de todos nós, e com o auxílio devotado de teus mais fiéis espíritos, em cujo número queira sempre incluir-me”.

Antes de seguirmos com o diálogo, o texto acima descreve a finalidade e a grandeza de O Evangelho Segundo o Espiritismo, tanto para a vida religiosa, quanto ou principalmente, para a condução da vida prática.
Quanto mais se estuda essa obra, mais lhe identifica a grandeza e a atualidade do seu conteúdo, porém, cento e cinquenta anos para medirmos o adiantamento dos mundos e das civilizações é irrisório e numericamente insignificante, o que evidencia que essa obra muito ainda tem a fazer.

            Allan Kardec, diante do que já havia experimentado com O Livro dos Espíritos e reconhecendo a dominação religiosa da época, volta a perguntar aos Espíritos:
— Que dirá o clero?

 — O clero gritará: heresia, porque verá que nele atacas decididamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele apoia sua influência e seu crédito. Ele gritará tanto mais, quanto se sentirá muito mais ferido do que pela publicação de O Livro dos Espíritos, do qual, a rigor, podia aceitar os dados principais; mas, agora, vais entrar num novo caminho em que ele não poderá seguir-te.” “(...) Por outro lado, os Espíritas verão seu número aumentar em razão dessa espécie de perseguição, sobretudo vendo os padres acusarem de obra absolutamente demoníaca uma doutrina cuja moralidade brilhará como um raio de sol, pela publicação mesma do teu livro, e daqueles que se seguirão. (...)

Na sequencia da resposta, encontramos o anúncio da proposta da obra em tirar o véu dos ensinamentos de Jesus: “Eis que se aproxima a hora em que te será necessário declarar abertamente o Espiritismo tal como ele é, e mostrar a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana”.

Após a beleza da resposta, que coloca a obra no altar do bom senso, ele traça o perfil que fez com que Allan Kardec fosse o eleito para a tarefa: “Escolhendo-te, os Espíritos sabiam da solidez das tuas convicções, e que a tua fé, como um muro de aço, resistiria a todos os ataques”.

E o perfil do Codificador segue sendo desenhado pelo Espírito comunicante: “(...) eis que a hora das dificuldades chegou. Sim, caro Mestre, a grande batalha se prepara; o fanatismo e a intolerância, sustentados pelo êxito de tua propaganda, vão atacar-te, e aos teus, com armas envenenadas. (Kardec é chamado de mestre pelo Espírito, lembrando que a única autoridade respeitada por eles é a moral). E finalizando a resposta a conclusão destaca os cuidados de Jesus com Allan Kardec: “Prepara-te para a luta. Tenho, porém, fé em ti, como tens fé em nós, e porque tua fé é daquelas que transportam montanhas e fazem caminhar sobre as águas. Coragem, pois, e que tua obra se complete. Conta conosco, e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de uma maneira muito particular”.

Desde esse início, O Evangelho Segundo o Espiritismo, segue cumprindo seu papel de esclarecimento e libertação, mesmo que ainda possamos lhe considerar um desconhecido, pois que muitos creem que sua simples leitura seja suficiente para absorver-lhe a profundidade e plenitude.
Convenhamos que uma obra que nasce destinada a fornecer as diretrizes para a edificação da alma humana, e consequentemente promover o adiantamento do mundo, possui verdades que se revelam na medida em que crescemos em espírito, moralidade e intelectualidade.
Diferente de uma obra que pode ser lida simplesmente, O Evangelho Segundo o Espiritismo, deve caminhar ao lado do Espírita, corrigindo sua conduta e iluminando sua vida, independente dos outros livros ele esteja lendo...

Busto de Allan Kardec em seu túmulo no Cemitério Père Lachaise,  em Paris, França.
A Doutrina Espírita foi fundada por Kardec com a publicação de O Livro dos
Espíritos, no dia 18 de abril de 1857.   Foto Ismael Gobbo
Teatro Romano na Colina de Fourviére, Lião, França.  Ao lado do Teatro se situa o belo e rico Museu Galo-Romano.
Na cidade de Lião,   Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec),  nasceu aos 3 de outubro de 1804.
Flores a venda em estabelecimento de  Lião, França. Foto Ismael Gobbo
Rio Sena, Ponte Charles de Gaulle e Gare de Austerlitz. Paris, França. Foto Ismael Gobbo
Na cidade de Paris surgiu o Espiritismo codificado por Allan Kardec.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, lançado em abril de 1864,
Na cidade de Paris, França, por Allan Kardec.

NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA. 25-04-2014.

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http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/25-04-2014.htm

Artigo especial. Evangelho Segundo o Espiritismo- 150 anos


Raymundo Rodrigues Espelho
Campinas, SP

O francês Hippolyte Léon Denizard Rivail,  que reencarnou em Lyon no dia 3 de outubro de 1804 e desencarnou em 31 de março de 1869, aos 64 anos de idade, interessou-se pelas comunicações das mesas girantes, muito comuns na sociedade francesa.   Passou a pesquisá-las profundamente com muito interesse e viu que se tratava de comunicações de espíritos, ou seja, comunicações com o mundo invisível. 
   Tomou o cognome de Allan Kardec, nome que tivera em encarnação anterior junto aos druidas, para realizar seus  estudos e análises científicas. Pedagogo da  equipe de Pestalozzi,  seu antigo mestre, obtivera  sucesso não só como intermediador dos espíritos, mas como profundo estudioso, capaz de contribuir com seu senso crítico e bagagem  espiritual e fazer ressoar pelos quatro cantos do mundo as importantes obras  da codificação.  
 O evangelho segundo o espiritismo, contendo as máximas morais do Cristo e sua concordância com o espiritismo, foi lançado em 29 de abril de 1864, tratando-se da terceira obra da codificação, pois já circulavam O livro dos espíritos,  O livro dos médiuns, formando-se assim a tríade que tanto interesse desperta em quem as  lê sem preconceitos religiosos. Após estes foram editados O céu e o inferno, A gênese e Obras póstumas
Grandes intelectuais, filósofos, sociólogos e cientistas deram sua importante contribuição para o fortalecimento das ideias espíritas na sociedade ainda tão materialista, como: Victor Hugo, Gabriel Delanne, Gustavo Geley, Camille  Flammarion,  William Crookes, César Lombroso, Artur Canon Doyle, Willian James, Alfred Russel Wallace e tantos outros.   

 Muito mais que uma data a ser comemorada, os 150 anos de O evangelho segundo o espiritismo nos remete à avaliação da importância da obra. Emmanuel, por intermédio de Chico Xavier, avalia que “o Evangelho é luz e renovação nos campos do espírito", o livro da esperança  que  vivifica um a um os ensinos morais do mestre, um roteiro a ser praticado por todos nós na construção de um futuro de paz e luz.
O Evangelho Segundo o Espiritismo lançado por Allan Kardec em abril de 1864.
Livro da Esperança ditado pelo espírito Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier.
Foi lançado quando da comemoração do Centenário de O Evangelho Segundo o Espiritismo
Museu Rodin e Igreja dos Inválidos, Paris, França. Foto Ismael Gobbo
Em Paris surgiu a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec
Maquete (estudo) de monumento a Victor Hugo por Rodin. Museu Rodin, Paris, França. Foto Ismael Gobbo

Curiosidades da Codificação

"Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso... "

UMA CARTA PARA O SR. ALLAN KARDEC - Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, acabrunhado.
Fazia frio.
Muito embora a consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros, escasseava o dinheiro para a obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe haviam colocado nas mãos.
A pressão aumentava...
Missivas sarcásticas avolumavam-se à mesa.
Quando mais desalentado se mostrava, chega a paciente esposa, Madame Rivail - a doce Gabi -, a entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada.
O professor abriu o embrulho, encontrando uma carta singela. E leu.
"Sr. Allan Kardec:
Respeitoso abraço.
Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso.
Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital.
Há cerca de dois anos casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal. Nossa vida corria normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoinette partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia.
Meu desespero foi indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo.
Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade...
A prova da separação vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano.
Faltava ao trabalho e meu chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa.
Minhas forças fugiam.
Namorara diversas vezes o Sena e acabei planeando o suicídio. "Seria fácil, não sei nadar"- pensava.
Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a ponte Marie.
Olhei em torno, contemplando a corrente... E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um objeto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.
Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera.
Tomei o volume nas mãos e, procurando a luz mortiça do poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre irritado e curioso:
"Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. - A. Laurent."
Estupefato, li a obra - "O Livro dos Espíritos" - ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo às suas mãos abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver."
Ainda constava da mensagem agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente.
O Codificador desempacotou, então, um exemplar de "O Livro dos Espíritos" ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme:
"Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. - Joseph Perrier."
Após a leitura da carta providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro...
Aconchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança.
Era preciso continuar, desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e desconhecer as pedradas...
Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo.
Allan Kardec levantou-se da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública, onde passavam operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos...
O notável obreiro da Grande Revelação respirou a longos haustos, e, antes de retomar a caneta para o serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima..."
(Hilário Silva - O Espírito da Verdade, 52, FEB)

(Texto copiado do site Rede Amigo Espírita)


Ponte Marie, Paris, França. Foto Lucas Gobbo

Artigo especial. 150 anos de O evangelho. Os bastidores da obra

ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO
JORNAL CORREIO FRATERNO.
Silvio Divino de Oliveira *
Nosso objetivo com este texto, fruto de  pesquisa em torno dos registros que marcaram a publicação de O evangelho segundo o espiritismo, em abril de 1864, na cidade de Paris, é destacar a marcante assistência espiritual junto a Allan Kardec, inspirando-o na concepção do plano e na organização da terceira obra básica da doutrina, cujo sesquicentenário comemoramos em 2014.
Data de 1863 os poucos relatos existentes em documentos, relacionados à redação e publicação da obra Imitação do evangelho. O codificador diz ter guardado segredo sobre o trabalho realizado, inclusive fazendo sigilo absoluto sobre o título do livro, a tal ponto que o próprio editor, sr. Didier, só veio a conhecê-lo no momento da impressão.
Esse título, como sabemos, foi posteriormente modificado, conforme Kardec descreve: "Mais tarde, por efeito de reiteradas observações do mesmo sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para O evangelho segundo o espiritismo,"1 fato que demonstra o caráter aberto de Allan Kardec diante das sugestões procedentes.
Sem dúvida, o título que passou a vigorar e chegou aos nossos dias é bem mais significativo e adequado. O termo ‘imitação’ fora usado naturalmente com o sentido de semelhante ou de concordante com os ensinos evangélicos. Todavia, a palavra poderia ser entendida, também, no sentido pejorativo como falsificação.
Em 9 de agosto de 1863, em Ségur,2 o ilustre professor dirigiu perguntas a um espírito amigo, que se manifestou através do sr. d'A..., arguindo-o sobre a nova obra em que trabalhava. Lembremos que ele guardava discrição sobre o seu conteúdo e o médium nada sabia. A resposta­ – que segue em parte abaixo –, portanto, não podia ser fruto de ideias preconcebidas do medianeiro:

"Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes."
Mais à frente, o manifestante amigo previne o codificador sobre a reação do clero:
"O clero gritará – heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. (...) O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana."
Sobre esta última previsão, relacionada à reação da Igreja Romana, ela realmente não se fez esperar. Tendo sido O evangelho publicado em abril de 1864, já no mês seguinte, em 1º de maio, os livros doutrinários foram colocados no famoso Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos). Kardec comenta o fato na Revista Espírita de junho de 1864, dizendo que já era esperado e prevendo os bons efeitos daí advindos para a propaganda do espiritismo.
Da mensagem obtida em Ségur também vale destacar a última frase do generoso benfeitor. Para Allan Kardec deve ter sido muito confortadora e, para nós espíritas, realmente  significativa:
"Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular." Trata-se de alusão clara a Jesus, que protegia particularmente o nobre missionário na gigantesca tarefa de trazer ao mundo a Terceira Revelação.
Ainda em Obras póstumas encontramos uma nota de Kardec, datada de 14 de setembro de 1863, em que ele informa:
"Eu solicitara para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse."3
Eis alguns trechos desse importantíssimo documento:
"Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar."
Na sequência do comunicado, o espírito informa que, segundo os seus conselhos ocultos, o plano da obra fora modificado ampla e completamente e comenta a situação de isolamento a que Kardec fora certamente aconselhado a buscar pelas venerandas entidades que o assistiam:
"Compreendes agora por que precisávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da doutrina. Uma obra como a que elaboramos de comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado."
Kardec descreve, em observação colocada ao final da mensagem, que de fato o plano da obra fora modificado, particularidade que o médium não poderia saber, uma vez que se encontrava em Paris e Kardec em Sainte-Adresse.
Importante comentário sobre a influência que o livro teria na vida prática das pessoas também é feito pela espiritualidade:
"Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um passo considerável para frente e abre, afinal, ao espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade."
Ainda dessa mesma mensagem, relacionamos, para finalizar, este pensamento do comunicante, antevendo o futuro:
"Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada."
A palavra ‘monumento’ é uma referência indiscutível à dimensão da obra da codificação, a cujo término o mestre lionês dedicaria o resto de sua vida, concluindo a edificação como trabalhador plenamente aprovado.
No apêndice, inserido pela FEB ao final de Obras póstumas, foi reproduzido documento redigido por Allan Kardec com data de 20 de outubro de 1863, e que só muito tempo depois foi publicado na Revista Espírita de 1º de novembro de 1904, em que o nobre missionário faz menção a um fenômeno de clarividência, envolvendo diretamente os bastidores da elaboração de O evangelho.
Nessa página, o codificador registra que a senhorita V..., natural de Lyon, era dotada de uma notável segunda vista. Estando de passagem por Paris, procurou-o na sua residência, na Rua Sainte-Anne, onde apenas pôde avistar-se com sua esposa, uma vez que ele, após ter retornado de Sainte-Adresse havia se retirado para Ségur, a fim de dar continuidade ao trabalho da sua obra. Não podendo concretizar-se o encontro esperado, foi sugerido pela esposa Amélie Boudet que ela tentasse ver-lhe o marido, usando os seus dons, o que de fato ocorreu. Após recolher-se por um instante, a senhorita fez a seguinte descrição:
"– Sim, vejo-o; acha-se num aposento muito iluminado, no pavimento térreo; há ali três janelas... Oh!... e como tudo é alegre! A casa é circundada por jardins... por toda parte árvores e flores... Tudo respira calma e tranquilidade... Ele está sentado, próximo a uma janela, trabalhando... Está cercado por uma multidão de espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especialmente parece ser superior a todos os demais, sendo-lhes objeto de deferências."
Após esta descrição pormenorizada, Amélie perguntou-lhe se podia perceber a natureza do trabalho de que o seu marido se ocupava. A resposta não se fez esperar:
"– Um momento... Vejo um espírito que segura um livro de grandes proporções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio-o:Evangelho."
Kardec redige uma observação ao documento, confirmando a exatidão das descrições quanto ao ambiente físico em que ele trabalhava, enfatizando o acerto sobre a revelação da natureza do trabalho, ou seja, O evangelho, uma vez que não o revelara a ninguém. E termina dizendo:
"Tal fato constitui-se, para mim, numa prova do interesse que os espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a minhas atividades."
Finalizo, reiterando a importância de O evangelho segundo o espiritismopara a codificação, obra primorosa em que fica evidenciado o aspecto da religiosidade da doutrina e a fidelidade de Kardec a Jesus, o espírito mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe como guia e modelo, conforme revelado na pergunta 625 de O livro dos espíritos. Toda a assistência e cuidados espirituais que cercaram a sua elaboração atestam-lhe a relevância e demonstram que os Espíritos do Senhor são verdadeiramente as virtudes dos Céus que vêm iluminar os caminhos e abrir os nossos olhos.

Trabalhador do C. E. Joana d'Arc, na cidade de Uberlândia, MG.


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1- Todas as citações foram extraídas de Obras póstumas, coletânea de escritos de Allan Kardec, elaborada e editada em Paris, no ano de 1890, por Pierre-Gaëtan Leymarie, edição em língua portuguesa da Federação Espírita Brasileira, 36ª edição, tradução de Guillon Ribeiro.

2- Ségur: local em Paris onde Kardec possuía uma propriedade que lhe oferecia maior tranquilidade para o trabalho. Na Rua Sainte-Anne localizava-se sua residência oficial, onde o codificador  frequentemente era  procurado.

3-Sainte-Adresse: comuna francesa na região administrativa da Alta-Normandia, no departamento Seine-Maritime. (dados obtidos na Internet). Deduzimos que Allan Kardec se refugiara nesta região litorânea, por algum tempo, atendendo a orientação espiritual, para elaborar o plano da sua obra sobre os Evangelhos.

(Publicação recebida em email do Correio Fraterno)
Correio Fraterno

Rio Sena e o Museu D’ Orsay. Paris, França. Foto Ismael Gobbo
Em Paris surgiu o Espiritismo Codificado por   Allan Kardec
Busto de Allan Kardec confeccionado pelo escultor D. Angel Texeira Brasero, em Mérida, Espanha.
O Espiritismo surgiu com O Livro dos Espíritos, assinado por Allan Kardec, e lançado aos 18 de abril de 1857.

NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA. 24-04-2014

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http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/24-04-2014.htm