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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Artigo especial Evangelho no lar – uma análise à luz da doutrina espírita.

Marcos Paterra[i]
João Pessoa, PB
Ao se  falar em evangelho no lar devemos esclarecer o que é “evangelho”, o qual podemos sintetizar como "boa mensagem", "boa notícia" ou "boas-novas", derivando da palavra grega ευαγγέλιον, euangelion (eu, bom, -angelion, mensagem).
A palavra grega "euangelion" deu também origem ao termo "evangelista" para a língua portuguesa. Pode-se definir também  como um gênero de literatura do cristianismo primitivo que contam a vida de Jesus, a fim de preservar seus ensinamentos ou revelar aspectos da natureza de Deus; de forma literal.
           A pratica do “Evangelho no lar” é utilizada desde a época de Cristo, onde a iniciou nas  praças públicas e avançou da casas dos “cristãos”.
“O culto do Evangelho no lar não é uma inovação. É uma necessidade em toda parte, onde o cristianismo lança raízes de aperfeiçoamento e  sublimação.  A Boa Nova seguiu da manjedoura para as praças públicas e avançou  da casa humilde de Simão Pedro para a glorificação de Pentecostes.  A palavra do Senhor soou, primeiramente, sob o tato simples de  Nazaré e, certo, se fará ouvir, de novo, por nosso intermédio, antes  de tudo, no circulo dos nossos familiares e afeiçoados, com os quais  devemos atender as obrigações que nos competem no tempo. Quando o ensinamento do Mestre vibra entre as quatro paredes de um templo doméstico, os pequeninos sacrifícios tecem a felicidade comum”[ii] (XAVIER/ EMMANUEL .p.51. 1999).
Assim o evangelho no lar é uma reunião dos integrantes da família, podendo incorporar vizinhos ou pessoas afins, onde se estuda os ensinamentos de Jesus, com base no “Evangelho Segundo o Espiritismo”[iii]. Sua prática norteia-nos a reflexões sobre nossa conduta diária e a adequação de nossos atos dentro dos princípios cristãos. Sob esta ótica  podemos afirmar que , efetua  uma higienização do períspirito[iv]  e   da Psicosfera[v]  do lar.
A obra literária “O Evangelho Segundo o Espiritismo” aborda os Evangelhos canônicos[vi],sob o prisma da Doutrina Espírita, enfatizando a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a da prece e da caridade.
Pode-se questionar como Allan Kardec[vii], conhecido por seu ceticismo e pensamento racional e após codificar o “Livro dos Espíritos”[viii] afirmasse  que o espiritismo não é uma religião,  todavia aparentemente se contradiz lançando  a obra “Evangelho Segundo o Espiritismo”; dando de certa forma um  aspecto religioso à Doutrina Espírita.
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,  traduzido por  J. Herculano Pires[ix] no capitulo “Explicação” nos informa que  o livro  foi elaborado  através de comunicações   dos espíritos  para Kardec  que deu-se inicio no dia nove de agosto de 1.863. :
"Esse livro de doutrina terá influência considerável, porque explana questões de interesse capital. Não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas de que necessita, como as nações, em sua vida prática, dele haurirão instruções excelentes. Fizeste bem ao enfrentar as questões de elevada moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos.  Na mesma pagina Herculano Pires   repete as informações contidas na obra “Obras póstumas”  informando sobre  a comunicação posterior, ocorrida em  14 de setembro de 1863,  a qual os Guias  declaravam à  Kardec: “Nossa ação, principalmente a do Espírito da Verdade, é constante ao teu redor, e de tal maneira, que não a podes negar. Assim não entrarei em detalhes desnecessários, sobre o plano da tua obra, que, segundo os meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e completamente”. Logo adiante acentuavam: “Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes, e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte.[...]” (PIRES  P. 6. 2003).
Conforme Herculano Pires reproduzindo as afirmações de Kardec em “Obras Póstumas”, O livro seria  publicado, inicialmente, com o título de “Imitação do Evangelho”, e posteriormente,  como  Kardec explica: “Mais tarde, por força das observações reiteradas do Sr. Didier[x] e de outras pessoas, mudei-o para Evangelho Segundo o Espiritismo” . (PIRES. P. 6. 2003)
A obra foi uma sequencia  de comunicações dos espíritos com Kardec, onde o codificador de maneira imparcial e  sensata  de maneira brilhante  sintetizou  e produziu o evangelho sob o prisma espírita.
Em “Obras póstumas”  Kardec complementa: “Esse livro das doutrinas terá uma influência considerável; nele abordas questões capitais, e não só o mundo religioso nele encontrará as máximas que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações nele haurirão excelentes instruções. Fizeste bem em abordar questões de alta moral prática do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida deve ser destruída; a Terra e as suas populações civilizadas estão preparadas; já faz bastante tempo que os teus amigos de além-túmulo a desbravaram; lança, pois, a semente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra gravite na ordem irradiante das esferas, e que saia, enfim, da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra, e contem com a proteção de teu guia, nosso guia de todos, e com o concurso devotado de teus mais fiéis Espíritos, no número dos quais queira muito sempre me contar.”( KARDEC. P.371[xi] .2000)
Kardec, sempre afirmou que o Espiritismo não é uma religião, todavia também destacava que possuía aspectos” religiosos. Nas obras como O Céu e o Inferno e a Gênese, o codificador nos dá a clara visão sobre os paradigmas religiosos e desmitifica crenças e superstições. Destacamos   o  debate entre Kardec e o padre no livro “O que é o Espiritismo”[xii] o qual fica claro a posição da doutrina espírita sobre  o aspecto religioso :
O padre :– A religião ensina tudo isso e bastou até o momento; qual é, pois, a necessidade de uma nova doutrina?
A.K. :  Se a religião basta, por que há tantos incrédulos, religiosamente falando? A religião nos ensina, é verdade, e nos diz para crer; mas há muitas pessoas que não creem apenas em palavras. O Espiritismo prova, e faz ver o que a religião ensina por teoria. Aliás, de onde vêm essas provas? Da manifestação dos Espíritos. Ora, é provável que os Espíritos não se manifestem senão com a permissão de Deus; se, pois, Deus, em sua misericórdia, envia aos homens esse socorro para tirá-los da incredulidade, é uma impiedade recusá-lo.
O padre: – Eu concordo que para as questões gerais, o Espiritismo está conforme as grandes verdades do Cristianismo; mas ocorre o mesmo do ponto de vista dos dogmas? Ele não contradiz certos princípios que a Igreja nos ensina?
A.K. : O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência e não se ocupa com questões dogmáticas. Essa ciência tem consequências morais como todas as ciências filosóficas; são essas consequências boas ou más? Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabo de lembrar. Algumas pessoas estão equivocadas sobre o verdadeiro caráter do Espiritismo. [...](KARDEC. P. 55.1999).
Concluímos  que para se entender o Evangelho Segundo o Espiritismo , temos de  ler as demais obras e seus complexos contextos, assim , sob essa ótica citamos Emmanuel no livro Doutrina de Luz: “ninguém poderá afirmar que Kardec fosse o autor do Espiritismo. Este é de todos os tempos e situações da humanidade. Entretanto, é ele o missionário da renovação cristã” (XAVIER  p. 61. 1990:).
O Evangelho do lar efetuado com a obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo” diferencia-se notadamente das outras religiões devido ao seu conteúdo esclarecedor e as preces que nele contem. Nesse livro Kardec sabiamente nos norteia sobre os efeitos da oração e no dia-a-dia direcionando-nos para  utilizá-la em inicio e fim da reunião, nas preces para as diversas ocasiões e necessidades e nos ensinando a analisar as questões sociais através das preces direcionadas a cada situação de vida.
“[...] Os homens correm atrás dos bens terrenos, como se os pudessem guardar para sempre. Mas aqui  não  há ilusões, e logo  eles  se  apercebem  de  que  conquistaram  apenas  sombras, desprezando os únicos bens sólidos e duráveis, os únicos que  lhes aproveitariam  na morada celeste, e que lhes podiam abrir as portas dessa morada. Tende piedade dos que não ganharam o reino dos céus. Ajudai-os com as vossas preces, porque a prece aproxima o homem do Altíssimo, é o traço de união entre o céu e a terra. Não o esqueçais!”[xiii] (KARDEC.  P. 32.  2003)
 Allan Kardec, no cap. XXVII da obra  “A prece conforme  o evangelho segundo o espiritismo deixa evidente  a importância da prece no  Evangelho no Lar:
“O Espiritismo faz compreender a ação da prece, explicando o processo da transmissão do pensamento, quer o ser por quem se ora venha ao nosso chamado, quer o nosso pensamento chegue até ele. Para compreender o que se passa nessa circunstância, convém imaginar que todos os seres, encarnados e desencarnados, se acham mergulhados no mesmo fluido universal que enche o Espaço, tal qual o estamos, neste planeta, na atmosfera. Aquele fluido recebe uma impulsão da vontade. É o veículo do pensamento, tal qual o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito.” (KARDEC.  P.51.1969)
Na obra Psicografada por Allan Kardec (espírito) através do médium Frederico Júnior[xiv] em 1889, na Sociedade espírita “Fraternidade”[xv]  mostra-nos a necessidade da leitura apurada e da dialética  dentro do evangelho do lar :
“Se o Evangelho não se tornar realmente em vossos espíritos um broquel, quem vos poderá socorrer, uma vez que a Revelação tende a absorver todas as consciências, emancipando o vosso século? Se o Evangelho nas vossas mãos apenas tem a serventia dos livros profanos, que deleitam a alma e encantam o pensamento, quem vos poderá socorrer no momento dessa revolução planetária que já se faz sentir, que dará o domínio da Terra aos bons, preparados para o seu desenvolvimento, que ocasionará a transmigração dos obcecados e endurecidos para o mundo que lhes for próprio? [...] Permita Deus que os espíritas a quem falo, que os homens a quem foi dada a graça de conhecer em espírito e verdade a Doutrina do Cristo, tenham a boa-vontade de me compreender — a boa-vontade de ver nas minhas palavras unicamente o interesse do amor que lhes consagro  (JUNIOR/KARDEC . 1889).
Concluímos esse artigo com a frase de Humberto Campos (espírito) na obra de Francisco Xavier: “Brasil Coração do Mundo, Pátria do evangelho”:
“Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na  vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de  produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram  todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho.” (XAVIER/CAMPOS. P.8.2011)

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i Marcos Tadeu Garcia Paterra; Psicopedagogo do setor de Reabilitação auditiva do HMER/JP-PB, diretor cientifico da AME/PB.
ii Trecho retirado da obra:  Instrumentos do Tempo. Cap. XXVII  CULTO CRISTÃO NO LAR. P.51 e 52.
iii O Evangelho segundo o Espiritismo (em língua francesa L'Évangile Selon le Spiritisme) é um livro espírita de autoria de Allan Kardec, foi publicado em Paris em abril de 1864.

iv Períspirito :  [do latim peri + spiritus] - . Invólucro semimaterial do Espírito

Psicosfera - [do grego psyché + sphaîra] - 1. Atmosfera psíquica. 2. Campo de radiação do períspirito., que se exterioriza em redor do próprio organismo físico.

vi Canônico é um adjetivo que caracteriza aquilo que está de acordo com os cânones, com as normas estabelecidas ou convencionadas.
vii Allan Kardec – Pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), educador, autor e tradutor francês, notabilizou-se como o codificador da doutrina espírita.
vii Livro dos Espíritos: Primeiro livro da  Doutrina Espírita, publicado  pela  primeira vez  em 18 de Abril de 1857.

viv José Herculano Pires  (1914-1979): jornalista, filósofo, educador, parapsicólogo, escritor e tradutor brasileiro. Destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do espiritismo no país. Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto estudos filosóficos quanto obras literárias inspiradas na Doutrina Espírita.
ix Sr. Pierre-Paula-Didier (1800- 1865): Membro da Sociedade Espírita de Paris desde a sua fundação, em 1858 ,era editor das obras de Allan Kardec.

xTrecho retirado de Obras Póstumas Cap. “Imitação do Evangelho” p.371 Médium: Sr. d’A.).
xiTrecho do livro “O que é Espiritismo” Cap. Terceiro Diálogo - O Padre..
xii Trecho retirado da Obra Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS UMA REALEZA TERRENA, comunicação de Uma Rainha de França -  Havré, 1863.
xiv Frederico Pereira da Silva Júnior (1858-1914) – Colaborador da Federação Espírita Brasileira, através do “Grupo Ismael”.
xv A 5 de fevereiro de 1889 Allan Kardec  manifestou-se através do médium Frederico Pereira da Silva Júnior, o qual  recebeu  instruções aos Espíritas do Brasil , material pode ser visto através do link :  http://www.oespiritismo.com.br/textos/ver.php?id1=106 ou no livro “A prece conforme o evangelho segundo o espiritismo”.

Referencias Bibliográficas:
KARDEC, Allan.  O Evangelho segundo Espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires. Ed. Lake. São Paulo 2003.
KARDEC, Allan. O que é Espiritismo. Ed. FEB . Rio de Janeiro. 1999.
KARDEC, Allan. A prece conforme o evangelho segundo o espiritismo. Ed. FEB . Rio de Janeiro. 1969.

XAVIER, Francisco C. Doutrina de Luz. (pelo espírito de Emmanuel ). Ed. GEEM (Grupo Espirita Emmanuel). São Bernardo do Campo/S.P.1990.
XAVIER, Francisco C. Instrumentos do Tempo. (pelo espírito de Emmanuel ). Ed. GEEM (Grupo Espirita Emmanuel). São Bernardo do Campo/S.P.1999.
XAVIER, Francisco C. Brasil coração do Mundo pátria do Evangelho. (pelo espírito de Humberto Campos ). Ed. FEB . Rio de Janeiro. 2011.
Ficheiro:Allan Kardec portrait001.jpg
Allan Kardec. Codificador do Espiritismo
Obelisco de Luxor. Praça da Concórdia, Paris, França. Foto Ismael Gobbo

Campanha da USE/SP. Evangelho no Lar e no Coração.  Júlia Nezu e Luiz Cláudio da Silva em Matão, SP
Foto Ismael Gobbo.
4º. Congresso Espírita Brasileiro homenageia os 150 anos de
O Evangelho Segundo o Espiritismo
SITE DA FEB DISPONBILIZA AS OBRAS BÁSICAS PARA
DOWNLOAD GRATUITO

NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA. 04-04-2014

Clicar aqui:
http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/04-04-2014.htm

Mensagem do médium e orador espírita José Medrado sobre os 150 anos de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Salvador, BA

Acesse aqui:

Artigo especial 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo


Lúcia Cominatto
São Paulo, SP

Neste ano de 2014 em que o Evangelho Segundo o Espiritismo comemora o sesquicentenário de sua publicação, 150 anos de luz a se espalhar por toda parte, envolvendo o nosso coração de paz e esperança de um futuro melhor, não podíamos deixar de agradecer a Kardec pelos ensinamentos que nos proporcionou através de suas obras.
   Portanto, não podemos falar de Evangelho sem falarmos também de Kardec. Assim sendo, é bom rememorarmos alguns fatos já conhecidos por muitos, sobre a sua vida enquanto encarnado. A ele devemos obras de inestimável valor, principalmente os cinco livros da Codificação: O Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gênese e O Céu e o Inferno.

°°°
   Lyon, França,1804... Em 03 de outubro desse ano, aportou num berço aqui na Terra, mais um emissário do Senhor: reencarnou aquele que, hoje, chamamos de Allan Kardec, com a grande missão de trazer à luz, as bases do postulado espírita, revolucionando as religiões de até então, numa época em que o Catolicismo predominava no seio das melhores famílias da Europa.
   Hippolyte Léon Denizard Rivail foi o nome que recebeu, como filho legítimo de Jean-Baptiste Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel.
   Grandes agitações políticas e sociais, e um acentuado desenvolvimento nas ciências, nas artes e nos meios de comunicação, marcavam o século XIX. Foi em meio a esses acontecimentos, que o menino Rivail se desenvolveu, iniciando os seus primeiros estudos em sua terra natal. Mas, graças à educação liberal, porém severa, recebida de seus pais, com apenas 12 anos de idade  ingressou no Instituto Pestalozzi, em Yverdun, na Suíça.  Longe das perturbações econômicas que o seu país atravessava, tornou-se um dos mais eminentes discípulos de Pestalozzi.
   Com apenas 14 anos, dotado de uma inteligência, pode-se dizer, invejável e, por demonstrar muito interesse para os estudos filosóficos e científicos, por indicação de seu mestre, passou a lecionar para os colegas menos adiantados. Aos 18 anos, bacharelou-se em Ciências e Letras.
   Concluídos os seus estudos em Yverdun, voltou para a França, ansioso por colocar em prática os ensinamentos adquiridos com seu mestre Pestalozzi.
   O ano de 1823 marca o início de sua carreira como pedagogo. Tinha encontrado a sua verdadeira vocação e, aos 19 anos, publicou o seu primeiro livro, um curso de Aritmética baseado no método de Pestalozzi. E, com algumas ideias próximas da realidade francesa, o professor Rivail, como era conhecido, fundou o Instituto Rivail.
   Em 06 de fevereiro de 1832, desposou Amelie Gabrielle Boudet, 9 anos mais velha que ele, mas que muito o auxiliou em sua tarefa pedagógica e na fundamentação do Espiritismo científico.
   Detentor de uma grande cultura, durante alguns anos, em sua própria casa, deu cursos gratuitos de matemática, química, física, anatomia comparada, retórica, fisiologia e francês.
   Como educador e tradutor, publicou cerca de 22 obras educacionais, inclusive as de Fénelon, que muito o atraíam.
   Aos poucos, foi deixando de publicar obras de cunho pedagógico, passando a interessar-se mais pelos problemas sociais e aperfeiçoar seus conhecimentos sobre os fenômenos inusitados que se produziam na época.
   Após os acontecimentos ocorridos em Haydesville, na América, graças à mediunidade das irmãs Fox, na Europa e em quase todo o mundo, as pessoas, por uma simples curiosidade, passaram a se interessar pelas experiências em manter contato com os espíritos. Tal fato, precursor das manifestações mediúnicas e que ficou conhecido como “mesas girantes”,  tornou-se uma simples recreação, nada mais que um passatempo para as pessoas da alta sociedade.
   Convidado por amigos a frequentar tais reuniões, Kardec, a princípio não se interessou; mas, com o intuito de provar que tudo não passava de uma fraude, aceitou o convite. Constatando a veracidade do fato, a título de pequisa, passou a frequentá-las assiduamente, levando sempre uma série de perguntas sobre diversos assuntos e chegou à conclusão de que “um efeito inteligente, tem sempre uma causa inteligente.”
   Porém, foi só em 1856 que recebeu, pela médium Srta, Jafet, uma revelação positiva de sua missão.Sem compreender a razão da sua escolha, duvidou, mas o Espírito de Verdade lhe respondeu: “Confirmo o que foi dito, mas recomendo-lhe discrição se quiseres sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Nesse último caso, outro te substituirá, porquanto os desígnios de Deus não se assentam na cabeça de um só homem.”
   Assim foi, que teve início a sua grande missão como Codificador do Espiritismo.
   Em 18 de abril de 1857 publicou sua primeira obra da Codificação: “O Livro dos Espíritos”, adotando o pseudônimo de Allan Kardec, por sugestão de seu mentor espiritual, nome esse, que ele já o teve numa encarnação anterior, na Gália.
   Essa obra que surgiu pelas mãos de Kardec, sob a orientação do Espírito de Verdade, tornou-se a pedra fundamental do Espiritismo, seu marco inicial, o código de uma nova fase da evolução humana. Não foi propriamente escrita por ele, mas elaborada com as respostas dadas pelos espíritos às suas perguntas, nas sessões mediúnicas, com médiuns da mais absoluta confiança e num Consenso Universal, ou seja, com a concordância sobre um mesmo assunto, através de diferentes médiuns em diversos países.
   Um ano depois, para melhor contato com as pessoas que se interessaram pelo seu livro, Kardec fundou a revista espírita. Através dela, combateu a frivolidade com que pessoas da época encaravam o fato espírita. Sem Kardec, provavelmente, o Espiritismo seria até hoje uma simples brincadeira de salão. E, nesse mesmo ano, ou seja, em 1858, fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cuja finalidade era, justamente, o estudo da nova doutrina.
   O segundo livro da Codificação, o Livro dos Médiuns, abrangendo a parte experimental e científica da Doutrina Espírita, surgiu em 1861, levando o Espiritismo a ser reconhecido como uma ciência experimental.
   Nessa época, os inimigos do Espiritismo desencadearam uma série de injúrias, calúnias e críticas, acusando-o de ser responsável pela série de suicídios ocorridos na França, naquela época.  Esse fato, porém, não abalou Kardec. Mas, essa situação foi se agravando, o que levou o bispo de Barcelona a ordenar que os seus livros fossem queimados em praça pública. No entanto, tal acontecimento teve efeito contrário ao que se esperava; despertou mais interesse, o que contribuiu para que o Espiritismo crescesse..
   Em 1864 o Espiritismo já podia se considerar como vitorioso. Ultrapassando fronteiras, sociedades espíritas já surgiam por toda parte. Foi nesse ano que surgiu O Evangelho Segundo o Espiritismo, relativo à parte moral da doutrina. E, do mesmo modo que Jesus não veio para destruir a Lei de Deus, mas cumpri-la, o Espiritismo também não veio destruir os ensinamentos de Jesus, mas dar-lhes cumprimento, ou seja, auxiliar a humanidade a melhor compreender para poder praticar.
   O quarto livro da Codificação, O Céu e o Inferno foi publicado no ano seguinte, e o quinto e último livro, A Gênese, em janeiro de 1868.
   Após o seu desencarne que se deu em 31 de março de 1869, em Paris, em consequência de uma súbita parada cardíaca, seus amigos reuniram algumas de suas obras inacabadas, num único livro, que publicaram em 1890 com o título de Obras Póstumas.
   Seu corpo foi sepultado no cemitério de Père Lachaise (Paris) e, ainda hoje, tem sido muito visitado por pessoas de todas as partes do mundo. Sobre a lápide, um busto seu em bronze e a inscrição de uma frase de sua autoria: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei.”

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   O Evangelho Segundo O Espiritismo é considerado a obra mais sublime de Kardec e reflete a beleza dos ensinamentos de Jesus, que vão sendo esclarecidos e colocados ao alcance de todos, pois muitas passagens do Evangelho contidas na Bíblia, são ininteligíveis ou mesmo, absurdas. Nele constam, também, instruções transmitidas pelos bons Espíritos, a fim de auxiliar-nos em nossa trajetória evolutiva, através do “amai-vos uns aos outros” proferido pelo Divino Mestre, quando de sua curta passagem pela Terra.
   Se a Lei de Moisés pregava a Lei de Justiça, Jesus veio pregar a Lei de Amor que, hoje, o Espiritismo incentiva a ser cumprida.
   O Evangelho Segundo o Espiritismo se nos apresenta como um pedacinho do céu que se abre, para nos mostrar e possibilitar entender a Justiça Divina, que dá “a cada um, conforme suas obras.” E, comprovando a imortalidade da alma, nele aprendemos a ter mais aceitação dos revezes da vida, sabendo o quão são necessários para o nosso crescimento interior.
   Se lido e estudado com perseverança e atenção, pode ser considerado como o “pão da alma” que alimenta o espírito, assim como o pão material alimenta corpo. Essa obra, conforme diz Kardec, “é para uso geral; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo.”
   Com os XXVIII capítulos nele desenvolvidos e acrescidos com as sublimes instruções dos Espíritos,“verdadeiras vozes do Céu” que vêm nos convidar à prática do Evangelho, além de uma belíssima coletânea de preces, só permanece na ignorância espiritual e persiste nos mesmos erros, aquele que o quer. Mas, os que já se conscientizaram da necessidade de evoluir, se procurarem colocar em prática o que aprendem a respeito de moral cristã, assimilando valores como o perdão e a humildade, darão um passo a mais em busca da evolução espiritual.
   Tendo a prática da caridade como meta a ser cumprida, compreenderão que o bem que fizermos aos outros, reverterá em bênçãos para nós mesmos. É por isso, que o Espiritismo traz como lema:”Fora da caridade não há salvação.”
   Em homenagem a Allan Kardec e aos 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, várias comemorações estão sendo programadas, não apenas no Brasil, mas também no exterior, em diversos países onde o Espiritismo está sendo divulgado e implantado nos corações, graças à participação generosa de médiuns e palestrantes de alto gabarito, que procuram dar a sua contribuição para que, em breve tempo, este planeta deixe de ser um mundo de tantas dores, para elevar-se a um mundo de Regeneração. Não ainda um mundo feliz, mas, embora distante, a caminho para que, algum dia, isso se torne uma realidade.
File:Picswiss VD-47-01.jpg
Castelo de Yverdon onde Allan Kardec estudou sob o comando de Pestalozzi.
Yverdon-les-Bains, Suíça. Imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Picswiss_VD-47-01.jpg
Ficheiro:Pestalozzi with the orphans in Stans.jpg
Pestalozzi e os órfãos de Stans.

Em  1º. de fevereiro de 1823, aos 18 anos,  Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec)
lança o Curso prático e teórico de Aritmética segundo o método Pestalozziano
Imagem da 4ª. Edição.  Internet

Ficheiro:Allan Kardec portrait001.jpg


NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA. 03-04-2014

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http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/03-04-2014.htm

Conferência por Divaldo Pereira Franco no Clube Juventus em comemoração aos 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo

09/02/2014

Acesse aqui:

Artigo especial O Evangelho Segundo o Espiritismo


Maria Helena Marcon
Curitiba, PR
No dia 29 de abril de 1864, Paris foi palco de mais um extraordinário lançamento. Vinha a lume, naquele dia, anunciado na Revista Espírita daquele mês e ano, Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo.
Em Bibliografia – à venda – anuncia Kardec que a obra contém a explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas circunstâncias da vida.
Destaca ainda a epígrafe: Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.3
Em 9 de agosto de 1863, enquanto trabalhava nessa obra, Kardec indagou aos Espíritos, através do médium Sr. d´A..., sobre o que pensava a Espiritualidade a respeito dela, recebendo a resposta de que: Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes.(...)
Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana.(...) 1
A 20 de outubro do mesmo ano,  tendo retornado Kardec de Sainte-Adresse e se retirado para  Ségur, a fim de, com mais tranquilidade, trabalharna obra sobre o Evangelho, a  médium Senhorita V..., natural de Lyon, estando em Paris, o desejou visitar. Somente encontrou na Rua Sainte-Anne a Amélie, sua esposa.
Por sabê-la dotada de notável segunda vista, a Sra. Kardec sugere que a médium se transporte até onde ele se encontra, a fim de vê-lo. Ela descreve o que vê: Kardec se encontra em um aposento muito iluminado, no andar térreo. Descreve os jardins, árvores e flores que circundam o imóvel.
Melhor que tudo, diz: Está cercado [Kardec] por uma multidão de Espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especialmente parece ser superior a todos os demais, sendo-lhes objeto de deferências.
E adiante: Um momento... Vejo um Espírito que segura um livro de grandes proporções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio: Evangelho.2
Segundo Kardec, ele trabalhava no livro sobre os Evangelhos, mas o título ainda era segredo para todos. Descrevendo tudo com tantos detalhes, afirma ele que essa manifestação lhe constituiu numa prova do interesse que os Espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a minhas atividades.2
Na Revista Espírita, desse novembro de 1865, Kardec, em Notas bibliográficas anuncia que se encontra no prelo, para aparecer em alguns dias: O Evangelho segundo o Espiritismo, por Allan Kardec, 3ª edição, revista, corrigida e modificada.  Esta edição foi objeto de um remanejamento completo da obra. Além de algumas adições, as principais alterações consistem numa classificação mais metódica, mais clara e mais cômoda das matérias, o que torna sua leitura e as buscas mais fáceis.4
A tradução para nosso idioma foi feita a partir dessa terceira edição e se encarregou dela Guillon Ribeiro, que foi Presidente da Federação Espírita Brasileira – FEB, por duas vezes, entre os anos de 1920 e 1943, engenheiro civil, poliglota e vernaculista.
Aos vinte e sete anos de idade, recebeu elogio de Ruy Barbosa, em sessão do Senado Federal de 14 de outubro de 1903 que, referindo-se ao seu trabalho de revisão do Projeto do Código Civil, disse desempenhar-se de um dever de consciência registrar e agradecer da tribuna do Senado a colaboração preciosa do Sr. Dr. Guillon Ribeiro, que me acompanhou nesse trabalho com a maior inteligência, não limitando os seus serviços à parte material do comum dos revisores, mas, muitas vezes, suprindo até a desatenções e negligências minhas.
Ao se avizinhar o Sesquicentenário da publicação da preciosa obra, a FEB, em consonância com o Conselho Federativo Nacional, entrega ao público edição especial, na primorosa tradução de Guillon. Nada menos de duzentos mil exemplares, dos quais trinta mil foram adquiridos pela Federação Espírita do Paraná – FEP e estão disponíveis na Livraria Mundo Espírita.
Gotas de luz que se espalham pela Terra. Justa homenagem a uma data tão importante. Enfocando especialmente o ensino moral contido em Os Evangelhos, a obra se constitui em roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura.
Esta obra é para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios de conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas oferece aplicações que lhes concernem de modo especial. Graças às relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a todas as nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá e se verá incessantemente impelido a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais. As instruções que promanam dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à imitação do Evangelho.3
Na Introdução da preciosa obra, o Codificador informa que acrescentoualgumas instruções escolhidas, dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por diferentes médiuns.
E quanto aos médiuns, escreve que se absteve de nomeá-los. Na maioria dos casos, não os designamos a pedido deles próprios e, assim sendo, não convinha fazer exceções. Ademais, os nomes dos médiuns nenhum valor teriam acrescentado à obra dos Espíritos. Mencioná-los mais não fora, então, do que satisfazer ao amor-próprio, coisa a que os médiuns verdadeiramente nenhuma importância ligam.

Bibliografia:
1.Kardec, Allan. Imitação do Evangelho. Ségur, 9 de agosto de 1863. In.:___.Obras póstumas39. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2006.
2.______.Um caso de segunda vista. Op. cit. Apêndice.
3.______.Bibliografia. In.:___. Revista Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 2004, v. VII. Abril de 1864.
4.______.O evangelho segundo o Espiritismo – 3ª edição. Op. cit. v. VIII.  Novembro de 1865.
Maria Helena Marcon
Coordenadora da Área de Comunicação Social Espírita
Da Federação Espírita do Paraná.
Assessora de Comunicação Social da Presidência.
Em 21.2.2014.

(Publicado originalmente no  jornal Mundo Espírita, em Abril/2013

Allan Kardec. Óleo sobre tela por Nair Camargo, São Paulo, Brasil. Foto Ismael Gobbo
Foto da Villa de Ségur. Paris, França. Allan Kardec cogitava mudar-se
para a região quando desencarnou a 31 de março de 1869.  Foto Ismael Gobbo
Placa indicativa da Villa de Ségur. Paris, França. Foto Ismael Gobbo
Jardiim na margem esquerda  do Rio Sena. Paris, França. Foto Ismael Gobbo 

NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA 02-04-2014

Clicar aqui:
http://www.noticiasespiritas.com.br/2014/ABRIL/02-04-2014.htm

Sesquicentenário de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” 04-1864 / 04-2014



 Allan Kardec Codificador do Espiritismo  e  Edição francesa de O Evangelho Segundo o Espiritismo

Artigo especial

Doutrina dos Espíritos. Codificação de Allan Kardec,
Religião de fé, razão e luz
Altamirando Carneiro
São Paulo, SP
O século 19 é denominado O Século das Luzes, pois foi nele que houve um grande desenvolvimento das artes, da ciência, da cultura. Neste século, surgiu em 18 de abril de 1857 (data da primeira edição de O Livro dos Espíritos), a Doutrina Espírita, codificada na França por Allan Kardec. Nessa época, Paris, a capital francesa, a então Cidade Luz, era o fulcro pensante do século 19.
         Mas o Espiritismo, a Terceira Revelação,  como as revelações anteriores (Moisés e Cristo), não surgiu abruptamente. Lembremo-nos que as ideias cristãs foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus, com Sócrates e Platão,  precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo. Jesus complementou  os Dez Mandamentos, as chamadas Leis de Deus, recebidos (as) por Moisés no Monte Sinai, ao passo que   o Espiritismo deu a interpretação racional aos ensinamentos de Jesus.
         A mediunidade e os chamados “fenômenos espíritas” (não porque sejam próprios do Espiritismo,  mas porque é o Espiritismo que os estuda, sem ideias preconcebidas), fizeram parte do dia a dia de pioneiros como Emmanuel Swedenborg, Edward Irving, Andrew Jackson Davis, Irmãs Fox, dentre outros.
         Até meados do século seis, todo o Cristianismo acreditava na reencarnação, proclamada há milênios antes da Era Cristã como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, mas o segundo Concílio de Constantinopla, em 553 d. C., realizado em Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender as exigências do Império Romano, resolveu abolir tal convicção, substituindo-a  pela ressurreição (da carne),  que contraria todo o princípio da Ciência, pois admite a volta do Ser, no suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.
         A Luz maior da Doutrina Espírita -    Ao longo do tempo, conforme as convenções humanas, surgiram várias concepções, como: 1) o materialismo, o qual afirma que a inteligência do homem é um produto da matéria. Os gozos materiais são as únicas coisas reais e desejáveis e viver cada um para si é o melhor, enquanto aqui estivermos. 2) a doutrina panteísta, para a qual a alma, independente da matéria, é extraída, ao nascer, do todo universal, individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito da morte, à massa comum.  3-a)  a doutrina deísta, com os deístas independentes, que crêem em Deus, admitem todos os Seus atributos como Criador, contudo, tendo estabelecido as leis gerais que regem o Universo, funcionam por si sós e Deus não mais se ocupa delas. Sendo assim, nada temos que agradecer ou pedir Deus. 3-b) os deístas providenciais, que crêem na existência e no poder criador de Deus, na origem das coisas e na intervenção incessante de Deus na criação, a Ele oram e não admitem o culto exterior e o dogmatismo. 4) a doutrina dogmática, a qual diz que a alma é independente da matéria. Criada por ocasião do nascimento, sobrevive e conserva a individualidade após a morte e desde esse momento, tem irrevogavelmente determinada a sua sorte, sendo nulos os progressos anteriores. 5) a Doutrina Espírita, a qual diz que o princípio inteligente é independente da matéria. A alma individual preexiste e sobrevive ao corpo. O ponto de partida é o mesmo pa ra todas as almas, não havendo exceções. As almas são criadas simples e ignorantes e estão sujeitas à lei do progresso.
A Doutrina Espírita se   assenta nos pilares básicos: a existência de Deus, a reencarnação ou pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados, a intercomunicação entre os dois planos da vida, o Código de Moral do Evangelho do Cristo.
         A concepção da existência de Deus, inata no homem, bem como a certeza do Espírito imortal, faz parte do pensamento de filósofos que impulsionaram a cultura do século 19. Immanuel Kant assinala que a consciência é a voz de Deus no homem. E demonstra que a lei moral é a possibilidade mais profunda de nosso ser, e a realização de nossa verdadeira destinação. René Descartes, ao chegar à célebre conclusão: “penso, logo existo”, afirma que o pensamento é algo mais certo que a matéria corporal, e descobre a realidade do Espírito. Hegel escreveu a Fenomenologia do Espírito, onde traça a história pela qual a consciência humana elevou-se das representações mais elementares de Deus à sua representação filosófica adequada.
         Entre vozes dissonantes, Friedrich Nietzsche proclamou a morte de Deus, mas Voltaire foi preciso quando afirmou que não acreditava nos deuses feitos pelos homens, mas sim no Deus que fez os homens.   
         O progresso moral distanciou-se cada vez mais do progresso científico. Se observarmos o progresso da Humanidade, vemos que em todas as épocas o progresso moral sempre marchou atrás do progresso material, no que para nós cristãos, o progresso material deve sempre andar lado a lado com o progresso moral. Somos como os pássaros, temos duas asas: a asa da moral e a asa do conhecimento, que devem sempre andar lado a lado.
         Retornemos  às várias concepções surgidas na Terra. Como dissemos no primeiro parágrafo, a Doutrina Espírita surgiu em 18 de abril de 1857, em Paris, França, com a primeira edição de O Livro dos Espíritos,   com 501 perguntas de Allan Kardec e as respostas dos Espíritos, com comentários, em negrito, do Codificador. A segunda edição, de 16 de março de 1860, foi reestruturada e aumentada por Kardec, com 1.019 questões, sob a orientação do Espírito de Verdade, que desde a elaboração da primeira edição já o avisara que ela  não podia conter tudo.
         Os “fenômenos espíritas” com os quais a Europa já estava familiarizada, principalmente através dos fenômenos das mesas girantes, que não passavam de meros divertimentos nos salões sociais, assumiam séria conotação, provocando reações do mundo todo.
         A segunda parte do livro Obras Póstumas, publicado em 1890 com escritos deixados por Allan Kardec, capítulo A minha primeira iniciação no Espiritismo, registra estas palavras do Codificador:
         “Compreendi, antes de tudo, a gravidade da pesquisa que ia empreender; percebi naqueles fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurava em toda a minha vida. Em suma, toda uma revolução das ideias e das crenças.”
         Depois de O Livro dos Espíritos, vieram: O Livro dos Médiuns – janeiro de 1861; O Evangelho Segundo o Espiritismo – 29 de abril de 1864; O Céu e o Inferno – agosto de 1865; A Gênese – janeiro de 1868.
            O Evangelho Segundo o Espiritismo completa em abril deste ano  de 2014, cento e cinquenta a nos de luz. Conforme disse Allan  Kardec, trata-se do desenvolvimento dos tópicos religiosos de O Livro dos Espíritos, e representa um manual de aplicação moral do Espiritismo.
            Sobre  esta portentosa obra  da Codificação Espírita, o livro Obras Póstumas registra uma comunicação de 9 de agosto de 1863, em que destacamos o trecho: “Este livro de doutrina terá influência considerável. Tu atacas as questões capitais e não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas, que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações obterá excelentes instruções”.
            Posteriormente, a comunicação de 14 de setembro de 1863 registra: “Com esta obra o edifício começa a destacar-se e já se pode entrever a cúpula desenhando-se no horizonte. Continua pois sem impaciência e sem fadiga; o monumento será concluído a seu tempo”.
Nesse cenário,  Allan Kardec lança em 1º. de janeiro de 1858, a Revista Espírita, que circulou até o ano de 1869, e em 1º.  de abril de 1858  a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro Centro Espírita do mundo. Contrariando os procedimentos da época, em que as manifestações das “mesas girantes” eram praticadas nos salões das residências burquesas, Kardec entendia que as reuniões espíritas deveriam ser efetuadas em instituição especialmente criada com esse objetivo, para evitar a frivolidade e a interferência de contingências da vida privada dos participantes.
         Tarefa difícil e complexa - Na página final da Revista Espírita, de 1858, Kardec notificou:
         “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Fundada em 1º. De abril de 1858 e autorizada por portaria do Sr. Prefeito de Polícia, conforme aviso de S. Ex., o sr. Ministro do Interior da segurança geral, em data de 13 de abril de 1858”.
         No capítulo XXX do O Livro dos Médiuns, o Codificador relaciona os 29 artigos que tratam dos objetivos e fins da entidade: da constituição, dos sócios, da administração, das sessões e de outras disposições. Em dois anos, a Sociedade contava com 87 sócios efetivos pagantes, entre cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do Exército e da Marinha, funcionários civis, empresários, professores, artesãos. O número de visitantes chegava a quase mil e quinhentas pessoas por ano.
         Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a fundação da entidade. Cansado pelo excesso de trabalho e aborrecido com querelas administrativas, por várias vezes manifestou o desejo de renunciar, mas aconselhado pelos mentores espirituais, continuou no exercício da presidência até a sua desencarnação.
         O Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina das atividades. Exigia de todos os participantes muita seriedade, fato que contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos, pois Kardec era extremamente austero nos pareceres emitidos e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse meio de controvérsias e debates estéreis.
         Allan Kardec realizou várias viagens a serviço da Doutrina Espírita, sendo que a viagem de 1862 foi a mais importante e mereceu do Codificador um opúsculo especial. Naquele ano, viajou por quase dois meses. Percorreu, de trem, 693 léguas e visitou 20 cidades. Nascido Denizard Hippolyte Léon Rivail, na cidade de Lion, na França, em 3 de outubro de 1804, estudou  no Instituto Yverdun, na Suíça, fundado e dirigido por João Henrique Pestalozzi.
         Aos 51 anos, era um educador consagrado na França e autor de diversos livros sobre a educação. Bacharel em ciências e letras, falava e escrevia o alemão, o inglês, o espanhol, o italiano e o holandês.
Casado com a professora Amèlie Gabrielle Boudet, desencarnada em 21 de janeiro de 1883, Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, pela ruptura de um aneurisma.
         No capítulo XXIII do livro A Caminho da Luz, (FEB), psicografado por Francisco Cândido Xavier, Emmanuel registra:
         “A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às mais profundas  bases religiosas”.
         E o volume III da obra Allan Kardec (pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação )- FEB, de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, anota:
         “Observando, comparando e julgando os fatos, sempre com cuidado e perseverança, concluiu (Allan Kardec) que realmente eram os Espíritos daqueles que morreram a causa inteligente dos efeitos inteligentes e deduziu as leis que regem esses fenômenos, deles extraindo admiráveis consequências  filosóficas e toda uma doutrina de esperança, de consolações e de solidariedade universal.”
         Espiritismo, ideia de muitos – Em editorial da revista Reencarnação, editada pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul – número 407, 2º. Semestre de 1993, Jason de Camargo diz:
         “O Espiritismo, amparado na fé raciocinada e fundamentada nas leis naturais, acompanha o progresso da ciência e se consolida como uma Doutrina desprovida de dogmas, interpretações pueris e fanatismo religioso. Inequivocamente, dedicou profundos estudos sobre esses temas. Procurou retirar as concepções ainda mitológicas existentes e possibilitou uma nova visão de mundo para todas as criaturas, iniciando, justamente, por Deus – a questão primeira d’O Livro dos Espíritos”.
         No item Influência do Espiritismo no Progresso, do capítulo VIII (Lei do Progresso) – Livro Terceiro – As Leis Morais, de O Livro dos Espíritos – questão 798, Allan Kardec pergunta:
         “O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de algumas pessoas?”       
         Os Espíritos respondem:
         “Certamente ele se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditores, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos.”
         Em Obras Póstumas, há o registro da posição de Kardec sobre o intolerante Auto-de-fé de Barcelona, que ocorreu  em 9 de outubro de 1861, quando foram queimados em praça pública, em Barcelona, 300 volumes enviados pelo Codificador ao livreiro Maurício Lachâtre. Quando o fogo consumiu os 300 volumes, o padre e seus bispos se retiraram,  cobertos pelas vaias e as maldições dos numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição! Em seguida, numerosas pessoas se aproximaram da fogueira, e recolheram as suas cinzas.
         Diz Kardec:
         “Podem queimar livros, mas não se queimam ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam, em vez de extingui-las. Ademais, as ideias estão no ar, e não há Pirineus bastante elevados para detê-las; e quando é grande e generosa uma ideia, encontra milhares de corações dispostos a almejá-la.”
         Como a fênix, com o Auto-de-fé de Barcelona, das cinzas nasceu a Luz! Como o Cristianismo, o Espiritismo é uma ideia verdadeira, que prevalecerá. Já se vê que o Espiritismo venceu e vencerá, com os homens, sem os homens e apesar dos homens.

(Texto recebido em email de Altamirando Carneiro, São Paulo, SP)
As cinco obras básicas da Doutrina Espírita assinadas por Allan Kardec
Jardim das Tulherias, o obelisco egípcio na  Praça da Concórdia  e o Arco do Triunfo ao fundo.
Paris, França. Foto Ismael Gobbo


Paris, França, a cidade berço do Espiritismo.  Foto Ismael Gobbo.
A trajetória do Rio Sena desde a região de Bercy, no alto, até a Ponte das Almas, abaixo,  á esquerda