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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Homenagem a Jésus Gonçalves (IV). Jésus Gonçalves, uma paixão. Artigo de Wilson Garcia

Jésus Gonçalves

Borebi, SP 12-7-1902/ (Pirapitingui)

Itu, SP 16-2-1947


De repente, o seu pensamento “original” já não lhe pertence, o encontro parece reencontro, a ação programada é por outro antecipada e um estranho déjà vu lhe invade o imaginário.

O mundo parece igual e ao mesmo tempo novo. Telepatia? Coincidência? Inspiração? Memória coletiva? Consciência interior?

Será, mesmo, que a água só passa debaixo da ponte uma única vez?

Jésus Gonçalves tornou-se a primeira paixão “morta” de Eduardo Monteiro. “Vivas”, muitas outras já lhe ocupavam os dias, quando ele resolveu mergulhar no mundo daquela figura mítica e ao mesmo tempo tão pouco conhecida.

Com uma papelada imensa que ele chamava de livro, veio ter comigo em São Bernardo do Campo, quase às vésperas de um carnaval.

Seco e seguro da obra, ofereceu-a para publicação na editora então iniciada. Político, assegurou pretender meu prefácio.

A paixão é capaz de arroubos espetaculares, mas é, também, provedora de ilusões terríveis. Jésus Gonçalves brotava intenso daquele caos, como jamais havia ocorrido, justificando a grande e imorredoura admiração do autor e de milhares e milhares de leitores num futuro próximo.

Eduardo descobriu aquela existência submersa, percebeu a sua força e içou-a das águas turvas onde se encontrava, com uma convicção tal que não haveria no mundo alguém, jamais, capaz de barrar-lhe a vontade de torná-la pública.

Entendeu ter em mãos mais um “apóstolo da caridade” e engoliu em seco quando viu a expressão no título do livro substituída por “vida extraordinária” e a obra passar por uma reorganização que implicava costuras e supressões.

Três meses depois, porém, Eduardo exultaria: lançado, o livro “A extraordinária vida de Jésus Gonçalves” tornou-se o primeiro grande fenômeno de vendas da Editora Correio Fraterno do ABC, consumindo, em menos de um ano, duas edições de seis mil exemplares cada. E em pouco tempo, as vendas ultrapassam a marca dos vinte mil livros.

Um autor estreante, uma obra sem grandes apelos literários num ambiente de terceiro setor. Qualquer entendido de mercado livreiro se surpreenderia com isso.

Que fatores contribuíram para tão grande sucesso?

Para compreender, necessário retornar ao final dos anos 70, início dos 80. Temos um espiritismo brasileiro marcado por lutas políticas internas e um grande apelo à assistência social, num país dominado por um governo militar ditatorial.

Grande parte dos novos adeptos surgia sob o signo da caridade e Eduardo Monteiro, filho da classe alta, atende ao apelo depois de vencer uma obsessão que o levou, inclusive, jovem, a Chico Xavier.

Seus caminhos se bifurcam e vão dar num sanatório hanseniano muito conhecido: Pirapitingui, localizado na região de Itu, interior de São Paulo. Desenvolve-se ali um trabalho assistencial intenso, e o principal grupo é liderado por Walter Venâncio, um pioneiro dessas atividades regulares no Sanatório de Pirapitingui.

Eduardo, ativo, bem relacionado socialmente, rude e humano como poucos, toma gosto por aqueles internos procrastinados e logo, logo, forma seu próprio grupo, abrindo-se para várias frentes de atuação.

O objetivo é dotar o sanatório de condições mais humanas, levando dignidade às almas ali internadas. Alimentos que suprem as necessidades do corpo, energias que atendem as necessidades do espírito, respeito pelas famílias, atividades culturais, lazer, assistência médica eficaz.

Em pouco tempo, porém, a luta se amplia no sentido de uma mudança cultural profunda da sociedade em relação aos leprosos. Era preciso banir esse termo milenar carregado de preconceitos e discriminação, dominante socialmente. Em seu lugar, hanseníase, mais leve, mais humano.

O projeto requer ações políticas, movimentos populares, intensificação das discussões nos veículos de comunicação de massa. Eduardo não vai medir esforços, nada vai deter sua disposição.

No Sanatório de Pirapitingui, a figura de um ex-interno ilustre vai crescer na mente de Eduardo e vai levá-lo a jogar-se de corpo e alma no resgate de sua existência: Jésus Goncalves. Eduardo vai descobrir o gosto pela pesquisa e Jésus Gonçalves vai alçá-lo Brasil afora nessa marcante atividade.

Eduardo descobre-o ali, mas ali está apenas uma parte de Jésus. As outras, muitas, precisa garimpar, peneirar e colocá-las à prova.

Então, Jésus era Jesus na certidão de nascimento, mas, por sua solicitação via mediunidade, muda-se a grafia para Jésus. Não desejava o espírito ser tomado pela figura maior do cristianismo.

Na Bahia de 1949, Jésus acabava de (re)fazer amizade com Divaldo Franco, num (re)encontro curioso e um pouco assustador para o jovem médium baiano. Jésus, “morto” pouco mais de dois anos antes, era desconhecido de Divaldo. Eduardo, no garimpo, os descobre.

Mas a viagem à memória pregressa está apenas começando.

Eduardo localiza Jésus não muito distante de Pirapitingui, mais precisamente em Borebi, sua cidade natal. Os pais, os irmãos, a orfandade precoce, o trabalho, o casamento, os filhos, a viuvez e a inteligência, tudo isso encontra espaço no papel do escritor, até que o escritor se depara com o seu biografado envolto no manto da moléstia mais temida: a lepra.

Eduardo segue-o, passo a passo, dia a dia, até Jésus ser apartado da sociedade e lançado, sem dó nem piedade, no espaço imundo e esquecido de um sanatório.

Eduardo acompanha sua revolta, sua niilização, sua desesperança completa. Mas tem tempo de continuar viajando para trás até descobrir respostas possíveis à desdita de uma alma fascinante.

Encontra Jésus em Alarico, o rei dos Visigodos, não uma, mas duas vezes. Encontra Jésus, ainda, em França, na pele do temível Richelieu, onde também está Divaldo Franco com outra indumentária física. Por fim, encontra-o desorientado no espaço sideral, lamentando os malfeitos e implorando por outra vida na Terra e uma dura prova: a lepra.

Jésus toma corpo cada vez mais frente ao seu escritor. E se revela extraordinário quando a “ocasionalidade” o faz mudar de pensamento frente à natureza e o mundo. A descrença é substituída pela esperança, a esperança reconstrói o caminho.

Aquela vida, que parecia despencar mais uma vez, reergue-se, para marcar de vez um novo destino. É aqui que seu valor se mostra por inteiro, mesmo que o tempo, implacável, lhe seja curto demais para tantos projetos.

Antes de deixar para trás o que lhe restava, ainda, de corpo físico, Jésus constrói uma obra admirável para melhorar a vida dos seus colegas igualmente segregados, lhes devolvendo um pouco da dignidade perdida.

Foi a paixão de Eduardo por Jésus Gonçalves que levou o autor a revelar este mundo fascinante de uma inteligência humana em provação extrema. E foi a coragem incomum de Jésus que comoveu os leitores, aquela massa humana imensa mergulhada na obra assistencial, fazendo do livro um admirável best seller.

O autor se foi; o personagem já, muito antes, havia ido. A obra, porém, continua comovendo, como um incentivo impagável, os corações ávidos de um sol cálido para os seus dias lentos e frios.

Wilson Garcia

Recife, PE


Capa original do livro

A Extraordinária Vida de

Jésus Gonçalves

Jésus Gonçalves, jovem

Ficheiro:Pirapitingui.jpg

Hospital Dr. Francisco R. Arantes. Tambem conhecido como Pirapitingui ou simplesmente “Pira”. Itú, SP

Foi um dos maiores leprosários do Brasil. Imagem:http://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_Dr._Francisco_Ribeiro_Arantes



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