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quarta-feira, 28 de março de 2012

Homenagem a Jésus Gonçalves (II). Entrevista com Jaime Prado (1): A hanseníase e o Asilo-colônia de Aimorés

Jésus Gonçalves

Esteve internado no Asilo-colônia de

Aimorés entre 1933 e 1937


Nesta página o historiador e jornalista Jaime Prado, residente em Bauru,

SP, nos conta um pouco da história do antigo Asilo-colônia de Aimorés,

hoje Instituto “Lauro de Souza Lima”, local onde eram internadas as

pessoas portadoras da lepra ou hanseníase. Jaime trabalha na instituição

desde o ano de 1976 como Servidor Público. Ao longo dos anos Jaime tem

produzido muitos materiais registrando a história daquela instituição que

abrigou milhares de pessoas enfermas, dentre as quais Jésus Gonçalves, o

nosso homenageado que ali viveu entre 1933 e 1937. Em artigos e registros

fotográficos que pretendemos amealhar com o concurso de amigos colabo-

radores, tentaremos prestar da melhor forma que conseguirmos esta justa

homenagem a este homem exemplar ao qual endereçamos nossos pensa-

mentos da mais profunda e sincera gratidão. (Ismael Gobbo)


Jaime, você pode nos fazer sua auto apresentação

Ismael, sou Jaime Prado 59 anos, brasileiro, casado com Helena Maria Antônio Prado, tenho uma filha Thaynara Fernanda Antônio Prado. Nasci na cidade de Santópolis do Aguapéi, SP, aos 25 dias de Março de 1953, filho de Mariano de Almeida Prado e Mariacy da Costa Prado. Meus pais tiveram três filhos, eu e minhas duas irmãs.

Sou de família simples e por este motivo tenho minhas raízes profundas na humildade e preservo os ensinamentos dos meus pais já falecidos.

Qual a sua formação acadêmica e profissional?

Sou servidos público estadual há 36 anos, no atual Instituto “Lauro de Souza Lima”, em Bauru, SP, onde realizo um modesto trabalho na preservação da história do antigo Asilo-Colônia Aimorés, expondo fotos em preto e branco com datas, dados e textos referentes à história desta instituição genuinamente bauruense. Não sou nada além de um simples apaixonado pela história que eu conheço desde 1968, que apesar de possuir um rico material de informação nada em representado para a instituição. Sou Jornalista na Função de Repórter Cinematográfico: Mtb: 038076 pela FENAJ – Federação Nacional de Jornalismo.Trabalhei como Repórter Cinematográfico e colaborei na fundação da TV Centrinho da USP em Bauru/SP em 1996. Participei na fundação da TV USC da Universidade do Sagrado Coração a USC de Bauru/SP. Militei durante 10 anos consecutivos como Repórter Cinematográfico na Televisão da Universidade do Sagrado Coração, onde tive o prazer e o privilégio de acompanhar a visita do Papa Bento XVI no Brasil, de gravar com o Juiz Italiano Baltazar Garzon, o mesmo que prendeu o Pinochet e de documentar e gravar a última matéria com o professor do Toquinho, o saudoso PAULINHO NOGUEIRA, em sua residência em São Paulo dois dias antes da sua partida terrestre. Também gravei as ultimas entrevistas com as personalidades que cito: os inesquecíveis Paulo Autran, Mauro Rasy, Dom Vicente Marcheti Zioni, primeiro Bispo da História de Bauru e o Arquiteto bauruense Jurandir Bueno Filho. Ainda, tive o prazer de documentar com exclusividade a história do primeiro astronauta brasileiro Marcos Pontes em um passeio a bordo da antiga Maria Fumaça, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia realizada no prédio da extinta estação ferroviária de Bauru.

Como se deu o seu ingresso como funcionário no Asilo-Colônia Aimorés em Bauru, destinado aos portadores da hanseniase?

Bem, minha história com o Asilo-Colônia Aimorés vem de muito tempo. No ano de 1937, uma tia querida foi internada nessa colônia de isolamento. Ela foi levada de sua casa, numa cidadezinha do interior onde a família morava, pelos guardas do Departamento de Profilaxia da Lepra. Lá ela faleceu em 1946 e a família não teve o direito de saber onde ela estava, nem mesmo após a morte para visitar o seu túmulo. Este trauma eu carrego desde quando ouvi os relatos dos meus avôs sobre o fato. Também outro acontecimento marcante foi a internação de outra tia nossa ocorrido em 1956 o que a obrigou ficar separada dos quatro filhos por muitos e muitos anos, cerca de 30 anos, até a conclusão do seu tratamento. Apesar dos meus 59 anos de vida, o passado ficou gravado na minha memória, com imagens em preto e branco, e que fazem parte do meu arquivo histórico intimo.

Sabemos que a lepra, Mal de Hansen, ou hanseníase, é uma das doenças mais antigas e cujos registros encontramos na Bíblia, dentre outras fontes. Poderia nos falar alguma coisa sobre a doença desde a antiguidade e como eram tratadas as pessoas que a possuíam?

Nos registros da antiguidade, no Velho Testamento e também no Novo, o assunto é tratado em diversos momentos, inclusive com os relatos de que Jesus Cristo curou vários leprosos.. No livro Levítico, ao que consta escrito por Moisés, em seus capítulos 13 e 14, há descrição da doença, relatando sobre as manchas que apareciam na pele do doente e a consequente proibição das vítimas de conviverem com as demais pessoas. Segundo consta em países como a França, se queimava os portadores da lepra, para que o mal não se propagasse. A doença não deixa de ser um estigma ainda. Concluindo posso dizer que se acabamos com a palavra “lepra” ainda convivemos com a hanseníase que ainda é vista com ares preconceituosos e de temor.

Os portadores da lepra eram discriminados no Brasil?

Não só eram discriminados como afastados da família e da sociedade. Prova disto é que as antigas colônias eram construídas longe das cidades, como aconteceu com o Asilo-Colônia Aimorés, a ultima a ser construída no Estado de São Paulo, cujo início da construção se deu em 1928. Esta colônia está localizada, propositalmente, a cerca de 12 quilômetros do centro de Bauru., para excluir os doentes do convívio social.

Como eles, os doentes, eram segregados nessa época?

Muitos doentes eram retirados do convívio familiar ou isolados, alguns nas próprias casas onde residiam, em quartos independentes ou as vezes trancados em algum cômodo sem manter contato com os demais familiares. A alimentação era servida através de um buraco. As famílias desconheciam a causa da moléstia e isso causava clima de terror entre as pessoas. Alguns enfermos chegavam a carregar um pequeno sino para anunciar que era doente da lepra.

Quais as leis brasileiras que determinaram a segregação dos leprosos?

No Brasil as leis são antigas e dados históricos da década de 1920 já falam do inicio das construções dos conhecidos leprosário. A Lei Federal número 610, de 13 de janeiro de 1949 foi criada para isolar os portadores da lepra, quando os guardas do Departamento Sanitário e do DPL - Departamento de Profilaxia da Lepra saiam à procura dos doentes que muitas vezes eram denunciados pela própria família ou pelos vizinhos. Na época muitos eram levados à força, sem rumo e sem destino, ou melhor era encaminhados para a cidade dos excluídos, as antigas colônias de leprosos.

No Brasil, onde foram criados os estabelecimentos para abrigar os portadores da lepra?

Em vários estados foram construídas as colônias de isolamento. No estado de São Paulo podemos registrar: Colônia do Padre Bento, em Guarulhos; Colônia de Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes; Colônia de Cocais, em Jundiapeba, Colônia do Pirapitinguí, em Itu, e, por ultimo, a Colônia Aimorés, em Bauru que, por muito tempo, foi conhecida como “Cidade Jardim”, em referência à beleza da sua arquitetura e a bela jardinagem, bem cuidada pelos próprios internos da instituição.

Como foi concebida Colônia Aimorés?

A Colônia Aimorés surgiu como resultado de uma Campanha na Imprensa Bauruense, em março de 1926, idealizada pelo jornalista José Maria de Jorge Castro, do Diário da Noroeste. A proposta consistia na realização de um Congresso Regional, com a participação de todos os municípios da Região Noroeste para tratar da situação dos portadores de lepra. Como um dos resultados advindos do congresso, se deu a publicação de vários artigos na imprensa com a finalidade de sensibilizar a sociedade bauruense para com o drama dos doentes que viviam perambulando pelas ruas da cidade, esmolando para o sustento da sua própria família. Ressalta-se que apesar de doentes, eles, os portadores da lepra, precisavam pedir esmolas para a sua sobrevivência. Como Bauru era na época um centro dos entroncamentos ferroviários, a cidade recebia pessoas de todas as regiões do estado a procura de um lugar digno para amenizar seus sofrimento em relação a moléstia que lhes afastavam da sociedade. Em razão da discriminação, os doentes construíam seus barracos e tendas às margens das estradas de ferro Noroeste, Sorocabana e Paulista, no Horto Florestal e ao lado do Matadouro Municipal. No tocante aos modelos, as colônias eram mais ou menos iguais, e, segundo as informações e dados, elas seguiam os modelos das colônias de Carville, nos Estados Unidos.Em Bauru depois da primeira reunião com os 84 municípios da Região Noroeste, da qual foi aprovada a doação de 10% dos impostos dos municípios participantes, um projeto pioneiro no Brasil, diga-se de passagem, do qual a sua cidade, Araçatuba, fez parte, na reunião do dia 27 de Setembro de 1927, conforme consta da primeira Ata lavrada. Em 1928 iniciou-se a construção dos primeiros pavilhões que, em 13 de Abril de 1933, ou seja, há 79 anos passado, inauguraram o Asilo-colônia Aimorés, que nunca mais fechou seus portões em forma de arco para receber os doentes portadores da lepra.

Nesse estabelecimento os familiares eram admitidos junto com o doente?

Não se admitiam os contatos familiares. Exemplos claros, verídicos e comprovados foi o fato ocorrido com minhas tias, uma internada em 1937 e outra em 1956. A família não foi comunicada para onde elas foram levadas, deixando para trás os familiares, filhos e seus entes queridos. Foram levados para um verdadeiro campo de concentração nazista em terras brasileiras. .

É verdade que na época os portadores da doença que não se apresentavam espontaneamente eram caçados pelas autoridades?

Sim, a polícia e os guardas, verdadeiros jagunços do tenebroso e temível DPL - Departamento de Profilaxia da Lepra do Estado de São Paulo, e do Departamento de Vigilância Sanitária, com os homens armados e sem amor algum ao próximo, caçavam e pegavam impiedosamente aqueles que eram portadores da lepra. Muitos deles foram denunciados como no caso da minha tia em 1937, que foi colocada dentro do “camburão preto” que trazia gravado as três letras do terror DPL – Departamento de Profilaxia da Lepra, no caso do Estado de São Paulo.

Como era a vida na Colônia?

Segundo os relatos de um ex-interno do antigo Asilo-Colônia Aimorés, hoje com 93 anos de idade - eu sempre procuro conversar com ele obtendo informações sobre a história do passado objetivando repassar para as futuras gerações o significado da palavra lepra – este senhor nos diz que os campos de concentração nazistas deviam ser até melhores que as colônias de leprosos porque os guardas nazistas tinham saúde e agiam por si próprios enquanto que nos leprosários, o que se via, eram doentes espancando os próprios doentes por ordem do delegado que existia na colônia. Até cadeia ou masmorra existia na colônia. Os doentes trabalhavam para cuidar da colônia a fim de torná-la uma “gaiola de ouro”. Na verdade, por detrás das cercas que separava os dois mundos, o do sadio e o do doente, existia uma outra realidade da história, que a própria história ainda desconhece.

Pelo que se pode constatar nos registros fotográficos era uma verdadeira cidade?

Sim, era um verdadeira cidade, construída pelo Estado, como já disse, distando cerca de 12 km do centro da cidade. Aqui existia o Cassino Cine-Teatro, salas de jogos, coreto na Praça Adhemar de Barros, Cadeia, Igreja, Cemitério, Fábrica de Guaraná, Padaria, Sorveteria, Marcenaria, Marmoraria, Tipografia, Olaria, Alfaiataria, quadra de basquete, campo de Malha e Bocha e lagos para natação.Tem-se que registrar que, entre 1933 a 1937 período em que Jésus Gonçalves esteve internado, aliás o mais ilustre deles, este liderou uma série de iniciativas que buscava promover a integração entre os internos, amenizando-lhes a dor e o insulamento compulsório. Com efeito, por sua iniciativa surgiram o Grupo de Balé, de Teatro, a Equipe de Futebol, a Rádio Publicidade Aimorés (RPA), a Jazz Band, a Banda Furiosa, o jornal O Momento, o Centro Espírita e inúmeras outras conquistas que de alguma forma permitiam alguns momentos de alegria para quem carregava no peito tantos e tantos sofrimentos. Não foi por acaso que cognominaram Jésus Gonçalves de Missionário dos Leprosos no Asilo-Colônia Aimorés.

Jaime, o atual Instituto Lauro de Souza Lima continua a atender os pacientes portadores de hanseníase?

Sim, Ismael, o Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru, SP, continua atendendo pacientes de todas as regiões do país. Como os pioneiros no Brasil, é um instituição de referencia da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e do Ministério da Saúde e, também referência mundial no tratamento e nas pesquisas em hanseníase.

A trajetória do órgão foi esta ao longo do tempo:

Leprosário de Bauru, em 1925

Leprosário da Estação Aimorés em 1927.

Em 1928 iniciou-se a construção do Asilo-Colônia Aimorés que foi inaugurado em 13 de Abril de 1933.

Sanatório Aimorés em 1949.

Hospital Aimorés de Bauru em 1969.

Hospital "Lauro de Souza Lima em 1974.

Instituto "Lauro de Souza Lima" em 1989.

Como se vê, a caminhada foi longa e pela instituição passou grandes personalidades da área médica voltadas ao combate da lepra, mal de Hansen ou hanseníase. Dentre eles podemos destacar o Prof. Dr. Diltor Vladimir Araújo Opromolla, que foi um dos discípulos do inesquecível Dr. Lauro de Souza Lima, um verdadeiro Bandeirante da Ciência Brasileira, o Médico Missionário dos Hansenianos, um Apostolo da Caridade que aplicava a medicina com o coração. Foi o responsável pela implantação do tratamento Sulfônico no Brasil, principalmente nas cinco colônias de isolamento do Estado de São Paulo. Foi Diretor do DPL- Departamento de Profilaxia da Lepra, Consultor Científico da ONU e que foi distinguido com vários títulos pela luta no combate á lepra.

São muitos os casos atendidos no Instituto Lauro de Souza Lima? Ainda é grande o índice de incidência da doença?

Sim, muitos casos que chegam de várias cidades da região e de outros estados. Infelizmente somos o segundo país do mundo em casos e com o índice de 8 a 10% deles apresentando sequelas irreversíveis, segundo os dados do Morhan Nacional. A incidência da moléstia ainda é preocupante no Brasil e em outros países também, motivo pelo qual a ciência luta incansavelmente para debelá-la, porém ainda fica no ar a pergunta: até quando? E ainda não temos a resposta.

Os pacientes atendidos são de que regiões?

De todas as regiões do estado e do Brasil chegam pessoas a procura de tratamento e, para isto, o Instituto Lauro de Souza Lima se destaca entre um dos mais conceituados no país.

Ainda existe preconceito com relação aos portadores do mal de Hansen?

Amigo, o preconceito sempre vai existir por mais informação que se tenha. O trabalho do Morhan Estadual e Nacional que caminha prestando informações mas acho que ainda deveria ser divulgado muito mais nas Escolas, Municipais, Estaduais, nas Universidade Públicas e particulares.

Visite a home Page:

Ali você encontrará muitas informações

http://www.morhan.org.br/


O jornalista e historiador Jaime Prado com a esposa

Helena Maria ocasião em que restaurou o relógio

da torre da igreja que permaneceu parado durante

30 anos


O relógio da torre da igreja de Nossa Senhora das Dores

no Asilo-colônia de Aimorés, restaurado por Jaime Prado

Igreja de Nossa Senhora das Dores no Asilo-colônia de

Aimorés, em Bauru, SP

A Jazz Aimorés Band do Asilo-colônia Aimorés

Vista aérea do Asilo-colônia de Aimorés, em Bauru, SP

Foto de pavilhão do Asilo-colônia Aimorés

O primeiro Baile da “Kermesse” no Asilio-colônia Aimorés no ano de 1935




NOTICIAS DO MOVIMENTO ESPIRITA 28-03-2012

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