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sábado, 6 de outubro de 2012

O Antigo Egito (Ismael Gobbo) XIII– O Livro dos Mortos



Ao lado do processo de mumificação, o chamado “Livro dos Mortos”  inscreve-se entre os costumes mais interessantes que os egípcios adotaram em suas cerimônias funerárias e,  seu uso, na forma mais conhecida, a dos extensos papiros multicores, generalizou-se à época do Novo Império.
     Esses escritos tiveram como fonte inspiradora textos mais antigos, sobretudo os do Médio Império e do Primeiro Período Intermediário, conhecidos como Livros dos Dois Caminhos ou os Textos dos Sarcófagos, que, por sua vez, foram uma retomada dos remotíssimos Textos das Pirâmides.
     Entre os antigos egípcios tais textos eram denominados “Formulas para sair o Dia”, porque, para eles, o renascer do sol equivalia ao renascimento para o mundo, o reencontro com Rá e a felicidade de estar em sua companhia;  a oportunidade do morto  sair da sepultura e ir a todos os lugares agradáveis que conhecera na terra e, ao final do dia, retornar à sua morada sem encontrar quaisquer tipo de obstáculos.
     É o que se infere no texto: “Aquele que brilha abre seu livro sobre a terra, o que brilha fez escrever em sua sepultura; Ele sairá todos os dias que lhe forem dados e a ela retornará sem obstáculos;  A ele será dado do pão, da cerveja e da carne do altar de Rá;  Receberá sua propriedade no campo dos canaviais; Também lhe será dado da cevada e do trigo e ele será feliz sobre a terra”.
     O Livro dos Mortos, além de documentar as crenças religiosas é, sem dúvida, o grande informativo do modo de vida dos egípcios. Através  dele são conhecidos os tipos de ferramentas que usavam para o trabalho, os instrumentos musicais, as comidas e as bebidas,  as festas,  a poesia, a fauna e a flora, vestimentas, meios de transportes, cenas retratando o defunto ao lado de seus familiares, ou, ainda, caçando, pescando ou jogando. Enfim, um verdadeiro filme de suas vidas encenado com rara graça, muita beleza estética e riquíssimas informações culturais.
Um hino de introdução
     É comum no Livro dos Mortos aparecerem os hinos de introdução antecedendo as fórmulas mágicas e as respectivas formas de implementação que, por superstição, não desprezavam as oferendas de comidas, bebidas, jóias e os diversos tipos de promessas.
     Essas passagens iniciais endereçadas aos deuses, sobretudo Rá e Osíris, caracterizam-se por belas expressões poéticas e são carregadas de enorme sentimento de submissão, respeito, reverência, louvor e agradecimento, como se nota no trecho que reproduzimos:
     “Hino a Osíris Unéfer, o grande deus que habita a província de Taur, rei da eternidade, senhor imortal, cuja vida se estende pelos milhões de anos. Filho primogênito saído do ventre de Nut, gerado por Geb. Príncipe soberano das duas coroas, aquele cuja coroa branca é alta, soberano dos deuses e dos homens, o que recebeu o cetro e o abanador de seus pais. Ditoso és, que habitas o mundo dos mortos, enquanto seu filho Hórus, assenta-se sobre teu trono. Foste coroado o senhor da Vila de Busíris, soberano de Abidos, tu, formoso, venerável e temível em teu nome de Osíris, tu que sobreviverás para sempre em teu nome de Unéfer. Homenagens sejam rendidas a ti, ó rei dos reis, senhor dos senhores, soberano dos soberanos, aquele que conquistou as duas terras quando ainda no ventre de Nut... Permita-me receber as bênçãos dos céus, a riqueza sobre a terra, o perdão no mundo dos mortos, possa eu, com a alma viva, ir a Busíris, voltar como fênix a Abidos, sem encontrar embaraço algum em qualquer porta do outro mundo. Possa também receber do pão na casa da purificação, das oferendas na Vila de Heliópolis e que seja fixada minha propriedade no campo dos canaviais, rico de trigo e cevada”.
Forma de composição e conteúdo
     O Livro dos Mortos que equivalia a um verdadeiro guia para alma no além apresenta-se como uma sucessão de fórmulas independentes, cada qual para uma determinada situação específica, obedecendo uma regra estrutural mais ou menos comum.
     A sua feitura se dava através de artistas que se dedicavam ao ramo, atendendo as encomendas de familiares do morto, ou, quem sabe, do próprio falecido quando ainda em vida. Através dele, recitando as fórmulas, seria possível se defender do ataque de seres malignos, os chamados “inimigos dos deuses”;  poderiam assumir formas que facilitassem atingir objetivos, como, por exemplo, transformar-se em falcão, em decano de tribunal;  conhecer as divindades dos diversos centros religiosos e estar na companhia dos deuses.
     Os interessados escolhiam os capítulos que achassem mais necessários e adequados ao defunto, alguns deles encontrados em praticamente todos os exemplares. Tal, por exemplo, o da psicostasia ou pesagem da alma, que retrata o momento do defunto ser julgado no tribunal de Osíris.
     Feita a escolha, onde certa liberdade, criatividade e bom gosto do artista e também do cliente apareciam, os copistas passavam à elaboração do trabalho seguindo as diretrizes básicas, mais rígidas, peculiares às obras dessa natureza.
As vinhetas
     A extensão e suntuosidade de um exemplar do Livro dos Mortos guardava relação direta com as posses dos clientes, da mesma forma como ocorria com os processos da mumificação em suas várias modalidades. Assim os trabalhos se apresentam das mais variadas formas.
     Alguns são bem simples e não vão além de textos escritos em forma cursiva bem resumida. Outros, um pouco mais caros, ganham direito a vinhetas desenhadas, porém sem nenhum colorido. Os mais caros, encomendados pelas famílias nobres, apresentam a cada capitulo, a ilustração respectiva, já trazendo em suas páginas multicores a púrpura e o ouro, que os habilidosos artistas egípcios tão bem souberam empregar.
     Como se vê, embora milênios nos separem da antiga civilização egípcia, ainda hoje os costumes guardam muita relação com aqueles da  antiguidade. No caso das cerimônias fúnebres,  como acontecia entre os egípcios, também hoje os velórios acontecem com ou sem pompa, na razão direta da disponibilidade orçamentária de cada freguês.

Próximo artigo: Os animais e a mitologia
 
Moita de papiro. museu do Cairo, Egito. Foto Ismael Gobbo
Texto das Pirâmides
Os Livro dos Mortos, escritos em papiro, originam-se desses antigos textos.
Pirâmide de Teti, Sacará. Foto Ismael Gobbo
File:Bookdead.jpg
Cena da Psicostasia (Pesagem da Alma) retratada em papiro egípcio
Museu Britânico, Londres, Reino Unido


Vinheta do Livro dos Mortos de Hunéfer. O morto diante de Osíris. Museu Britânico, Londres.
Papiro Egípcio do Livro dos Mortos.  Kha e a esposa Merit diante de Osíris. Foto do Museu Egípcio de Turim, Itália.  Acervo de  Ismael Gobbo
File:Bookofthedeadspell17.jpg
A fórmula mágica 17, do papiro de Ani. A Vinheta traz na parte superior da esquerda para a direita o deus Rá em uma representação do mar, uma porta do reino de Osíris, o olho de Horus, a vaca celeste Mehet-Uret e uma cabeça saindo do sarcófago guardada por quatro filhos de Horus. Imagem:http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bookofthedeadspell17.jpg
File:Egypt bookofthedead.jpg
Trecho do Livro dos Mortos do escriba Nebqued, que viveu sob o reinado do faraó Amenophis III , da 18ª. dinastia.
Nebqued  acompanhado pela  mãe Amenemheb e pela mulher Merit estão diante de Osiris, deus dos  mortos.
Departamento de antiguidades egípcias do Museu do Louvre, Paris, França.
Folha de papel de papiro já pronta, confeccionada artesanalmente. Cairo, Egito.
 Essas folhas as vezes eram  emendadas para  formar os extensos rolos dos “Livro dos Mortos”
Foto Ismael Gobbo
Jean François Champollion, célebre egiptólogo e lingüista francês, cognominado de
‘Pai dos Hieróglifos’.  Graças à decifração da antiga escrita egípcia se pôde conhecer com
 profundidade a história daquela civilização.
 (Pintura óleo sobre tela de Léon Cogniet. Museu do Louvre, Paris, França.






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