BLOG DE NOTÍCIAS DO MOVIMENTO ESPÍRITA.....ARAÇATUBA- SP

Atenção

"AS AFIRMAÇÕES, INFORMAÇÕES E PARECERES PUBLICADOS NESTE BLOG SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DE QUEM OS ELABOROU, ASSINA E OS REMETEU PARA PUBLICAÇÃO. FICA A CRITÉRIO DO RESPONSAVEL PELO BLOG A PUBLICAÇÃO OU NÃO DAS MATÉRIAS, COMENTÁRIOS OU INFORMAÇÕES ENCAMINHADOS."

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um pouco da história O Antigo Egito (Ismael Gobbo)

III–  Os hieróglifos decifrados



  A pesquisa desenvolvida por Champollion para revelar o conteúdo dos hieróglifos assemelhou-se a um verdadeiro quebra-cabeças.
     Reconheceu a impossibilidade de cada hieróglifo isoladamente significar sempre uma letra de alfabeto ou uma palavra.
     A dedução era lógica: sendo os sinais em número superior a setecentos, mostravam-se excessivos para comportar a primeira hipótese, e insuficientes para a segunda.
     A experiência acumulada no estudo das antigas línguas orientais lhe direcionou para a possibilidade daqueles elementos representarem fonogramas, ou seja, cada sinal ou grupo de sinais representarem determinado som.
     Esse hipótese, que já havia sido aventada por alguns estudiosos, só com Champollion obteve comprovação científica.
     A publicação de suas conclusões se deu na famosa “Lettre à M. Dacier”, datada de 22 de setembro de 1822, e comunicada cinco dias após, a 27 de setembro.
     Nesta carta e em outras duas obras posteriores, “Le Précis Du systéme Hiéroglyphique dês Anciens Egyptiens” (1824) e “Les Príncipes généraux de la langue égyptienne” (óbra póstuma), o insigne mestre desvendou o segredo dos hieróglifos, como prometera a Fourier, em 1806, aos dezesseis anos, tornando o conhecimento daquela escrita tão fácil e exato como o de qualquer outra língua morta conhecida, estudada e constante dos currículos acadêmicos.  

     Síntese da grande descoberta

     A Pedra de Roseta, com seu texto de grafia tríplice, era o material que faltava a Champollion, o sábio preparado para interpretá-la.
     O mestre, conhecedor do grego, leu o texto naquela língua sem dificuldades.
     Até ai,  nenhuma novidade, porquanto desde a descoberta da curiosa lápide os especialistas conhecedores do grego já haviam feito a constatação de que fora grafada à época dos Ptolomeus.
     Aliás, o seu irmão Jacques Joseph, já havia feito a tradução integral do texto grego. Mas, e o resto? Que estaria escrito nos dois outros textos de grafias tão estranhas e consideradas desconhecidas?
     Champolion dominava amplamente o copta, uma escrita que os egípcios utilizaram entre os séculos II e VII dC.
     Analisando o texto intermediário da pedra, verificou que o texto trazia alguns caracteres não muito distantes do copta.
     Passou então fazer comparações entre o grego, o copta, o texto intermediário e o hieróglifo em busca dos fonogramas correspondentes.
     Centrou inicialmente sua atenção nos nomes próprios e encontrou os de Cleópatra e Ptolomeu no texto intermediário.
     Em seguida, foi ao primeiro texto, grafado em hieróglifos, e igualmente identificou aqueles nomes próprios, notando uma particularidade: os nomes reais ou dos faraós tinham uma moldura a circundá-los, peculiaridade que os franceses batizaram de “cartouche”.      
     Essa descoberta confirmou sua intuição: os hieróglifos representavam fonogramas (sons). Porém, não representavam apenas sons.
     Aprofundando-se nas pesquisas, verificou que alguns sinais eram ideográficos (exprimiam idéias); outros, alfabéticos, e alguns, mudos ou determinativos para distinção dos homófonos. Comprovou que os textos da Pedra de Roseta na realidade era um texto único em grafias diferentes: hieróglifo, demótico e grego.
     Mas isso foi só o começo. Descobriu que os egípcios, segundo a época, ora escreviam de cima para baixo, como de baixo para cima, ou da direita para a esquerda, como da esquerda para a direita, além das características próprias dos textos sagrados, muito mais complexos que os textos simples.
     Enfim, uma tarefa de fôlego, que dele exigiu trabalho diuturno ao lado dos fiéis colaboradores.
     Graças à sua descoberta é que a civilização egípcia, a partir de 1822, ano da publicidade de suas conclusões, realmente passou a ser conhecida pela  possibilidade de leitura de todos os seus escritos.
     Sem o estudo preciso e conclusivo de Champollion, autor algum, antigo ou contemporâneo, teria condições  de escrever as obras sobre o Egito que hoje se usam nos bancos escolares; arqueólogo algum, como interpretar o que acha; e museu algum, como explicar o significado dos tesouros egípcios que enriquecem suas galerias.
     A partir de Champollion, é que se pôde estabelecer com maior precisão a cronologia da civilização egípcia, conhecer seus governantes, apreciar sua literatura e os seus usos e costumes.
     Assim, não obstante a civilização egípcia ser das mais antigas que se conhece, o conhecimento de sua verdadeira história ainda não completou dois séculos.

A obra continua

     Champollion sacode o mundo.
     Depois da descoberta, partiu para Turim, a fim de estudar a importantíssima coleção de Drovetti, com a ajuda de seu mecenas, o Conde de Blacas.
     Ali, conheceu as estátuas colossais e uma infinidade de documentos, que analisou e catalogou, dando publicidade periódica ao resultado de suas pesquisas.
    Acrescentou dezenas de nomes reais em sua relação.
    Percorreu a Itália, especialmente as cidades de Roma, Nápoles, Florença e Livorno, para estudar seus monumentos, acervos arqueológicos e formas de organização de museus.
     Em 17 de maio de 1826, o rei da França faz criar a segunda secção do Museu de Antiguidades do Louvre, consagrado aos monumentos egípcios e orientais, dando a chefia a Champollion, que se revela um museólogo revolucionário para a época.
     Somente em 1828, concretizou seu acalentado sonho de conhecer pessoalmente o Egito, dirigindo uma importante expedição.
     Lá, vislumbra com os próprios olhos tudo aquilo que já vira retratado nas infinidades de desenhos e apontamentos, sobre os quais de debruçara durante tantos anos.
     Morreu em 1832, aos 42 anos; sepultado no famoso cemitério Père Lachaise, em Paris, seu túmulo figura entre os mais visitados, onde também estão os de figuras eminentes como Allan Kardec, Balzac, Delacroix, Marcel Proust, Bellini, Rossini, Apollinaire, Gabriel Delanne, Jean Pierre Leymarie, dentre muitos outros.

     Próximo artigo, na próxima semana: IV – O Nilo e suas inundações

Réplica da Pedra de Roseta entre canhões em Rashid (Rosetta)
Tabela de Champollion contendo os sinais fonéticos em grafia Hieróglifa e Demótica na carta a Dacier. Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Piedra_de_Rosetta

File:Lettre à M. Dacier (1822).jpg
Carta a Dacier


O templo de Luxor e o Rio Nilo,  Egito.  Do outro lado do rio ficam as necrópoles dos Reis e da Rainhas. Foto Ismael Gobbo
Museu Egípcio de Turim. Foto gentilmente cedida pelo museu. Acervo particular Ismael Gobbo
File:Rosetta Stone International Congress of Orientalists ILN 1874.jpg
Experts analisam a Pedra de Roseta durante o Congresso Internacional de Orientalistas no ano de 1874. Imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Rosetta_Stone_International_Congress_of_Orientalists_ILN_1874.jpg
Túmulo de Jean François Champollion “O Jovem” em forma de obelisco egípcio
Cemitério Père Lachaise, Paris, França. Foto Ismael Gobbo
O Rio Nilo atravessando a cidade do Cairo, Egito.
Foto Ismael Gobbo





0 comentários: