16/01/1946
A BOA CONSCIÊNCIA É O TESOURO MELHOR
Meus filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita paz aos corações e muito otimismo na luta diária.
Rômulo, meu filho, anoto o seu desejo de algo ouvir de meu coração, nas circunstâncias em curso. Mas não é preciso escrever com respeito ao assunto. Falo com as minhas “novas cordas vocais” e você ouve com os seus “ouvidos que estão acordando”. Não é preciso uma terceira pessoa. Estimaria examinar em sua companhia os “documentos espirituais” que dão causa às lutas que passam, entretanto, seria o mesmo que nos recolhermos dias e dias em arquivos amarelados pelo tempo a rever o que devemos olvidar. É por isso que prefiro comentar com você o presente e o futuro, a inspirar-nos serviços mais concretos e bases mais sólidas.
À medida que os anos se sucedem, as nossas recapitulações na esfera da carne se fazem mais complexas. É natural. Há situações que voltam com a madureza de raciocínio e não deverá ser de outro modo. Assim me explico para esclarecer que a intensidade da vida, isto é, o aproveitamento do tempo, vai trazendo os problemas que ainda se encontram por resolver. Como você sabe, em nossa situação de hoje somos como o “rio” atendendo à vontade de Deus entre duas margens — uma em que resgatamos e retificamos e outra em que semeamos de novo com relação ao porvir. Prossigamos confiantes em Deus. Creia, como sempre, que a boa consciência é o tesouro melhor.
Abstive-me também de maiores intervenções e comentários para não atenuar a sua pugnacidade e o seu espírito combativo. São forças que foram dadas a você por Deus e que não posso, nem desejo, subtrair. Vocês estão no plano de lutas da humanidade e todas as armas que o Senhor nos coloca nas mãos devem ser usadas para o bem. Reconheço que você fez o que foi possível, mobilizando as relações a serviço do feito e esforçando-se para que a justiça se manifestasse, conservando-se ainda à frente de vasto caminho para o prosseguimento da tarefa. Assim, portanto, a estrada continua aberta ao nosso bom trabalho e deve continuar trabalhando como estamos. Embora soubesse (com todas as probabilidades de certeza prévia absoluta) o que se verificaria, atento ao passado e ao presente e, muito mais aos homens e ocorrências políticas que interferiram no caso, acompanhei seus papéis quanto me foi possível. Ouvi mesmo com o maior carinho as preces de Maria, que tanto me sensibilizaram o coração, preces-desejos, preces-aspirações, mas quando vi que o nosso esforço não impedira o adiamento da realização esperada, trouxe a você a única expressão de entendimento e carinho que me era possível — um beijo de amigo, quando você descansava. Um beijo amigo está sempre cheio de esperança que não deve fenecer. Confiemos, pois, em Deus e caminhemos. Depois da noite, a alvorada surge sempre. Isso é inevitável.
A todos vocês, o meu grande abraço. Vivam prevenidos contra a gripe. Tenham cuidado. E agora deixo-lhes o meu afeto de sempre, com toda a confiança e intimidade de pai,
A. Joviano
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda Amorim. Sementeira de paz. Ditado pelo espírito de Neio Lúcio. Belo Horizonte: Vinha de Luz, 2010. p. 29-30.
Chico Xavier, de pé, tendo à sua frente Wanda Joviano
Ao lado Dr. Rômulo e a esposa D. Maria
Foto e texto recebidos de Geraldo Lemos Neto, BH
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