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terça-feira, 17 de maio de 2011

Curados mas não iluminados João, 4:46-54

Richard Simonetti

Segundo João, Jesus esteve dois dias na Samaria.

Os habitantes da região maravilharam-se com sua sabedoria. Reconheceram nele alguém muito especial.

Depois voltou à Galiléia, onde foi recebido com entusiasmo.

Espalhavam-se rapidamente as notícias sobre os prodígios que operava e a mensagem que transmitia.

Eram tempos gloriosos.

O Céu parecia mais próximo da Terra!

Tão maravilhosa era a capacidade daquele mestre nazareno em refletir o poder e a grandeza de Deus que haveriam de confundi-lo com o próprio Criador.

***

Em Caná, foi procurado por alto funcionário de Herodes Ântipas.

A Palestina, sob dominação romana, estava dividida em quatro regiões administrativas, chamadas tetrarquias:

Galiléia, Judéia, Peréia e Samaria.

Para melhor acomodar as populações ao jugo que lhes era imposto os romanos costumavam nomear filhos da terra como seus representantes.

Herodes, membro da aristocracia judaica, governava a Galiléia. Chamado rei pelos aduladores, era mero títere de Roma.

O visitante vinha de Cafarnaum.

Não viajava em missão oficial. Não era o representante do tetrarca quem ali estava. Apenas angustiado pai que lhe suplicava “descesse e curasse o seu filho, que estava à morte”.

Certamente conhecia Jesus, sabia de seus poderes, tanto que não vacilou em percorrer perto de trinta quilômetros que separavam Cafarnaum de Caná, a fim de implorar sua intervenção.

***

Ao ouvir a solicitação Jesus comentou:

Se não virdes sinais de prodígios, de modo algum crereis.

O visitante ilustre reiterou, angustiado:

Desce, Senhor, antes que meu filho morra!

A insistência revelava sua convicção de que Jesus salvaria o menino..

Falava em descer porque havia um desnível de setecentos metros entre Caná, nas montanhas, e Cafarnaum ao nível do lago de Genesaré. Algo semelhante a descer de São Paulo, no planalto, para Santos, à beira-mar.

Jesus o fitou com bondade e afirmou, tranqüilo:

Vai! Teu filho vive.

O representante do tetrarca sentiu a força daquela afirmativa e acreditou.

Cheio de ansiedade, partiu.

Ainda não chegara ao seu lar e já os servos vinham ao seu encontro, eufóricos, a dizer-lhe que o menino estava bem.

Quis saber a que horas se dera a cura.

Ontem, à hora sétima, a febre o deixou.

Ele estivera com Jesus naquela tarde.

O leitor estranhará, certamente, a informação de que o menino livrara-se da febre no dia anterior.

É que para os judeus o dia começava no poente, quando o sol declina, por volta das dezoito horas.

Daí a expressão ontem, já que o representante de Herodes encontrou os servos ao anoitecer. A hora sétima corresponde às treze horas, exatamente quando se dera o encontro com Jesus.

Era o segundo prodígio operado em Caná. Mais um nos muitos que caracterizariam seu apostolado de bênçãos.

***

Significativa a observação de Jesus. Ele seria aceito pela multidão basicamente em razão das maravilhas e curas que operava. Poucos consideravam a excelência de seus princípios.

Aceito, portanto, mas pouco observado, escassamente seguido, raramente imitado.

Muitos foram beneficiados, sem se ligarem à sua mensagem. Não se conhece nenhum cego, surdo, paralítico ou mudo curado, a participar da comunidade cristã.

Nenhum deles esteve presente no julgamento de Jesus para defendê-lo, atestando sua integridade moral, seus poderes maravilhosos.

Nenhum deles o acompanhou na via-crúcis, disposto testemunhar fidelidade aos seus princípios.

Temos exemplo típico em Lucas (17:11-18), que relata uma ação prodigiosa de Jesus.

Numa de suas viagens, à entrada de uma aldeia, surgiram dez leprosos. Não podiam aproximar-se, em virtude dos rigorosos costumes da época. Eram considerados imundos.

Clamaram de longe:

– Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.

Ele respondeu:

– Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.

Para retornar ao convívio social, todo portador de moléstia contagiosa devia submeter-se a exame de um sacerdote e dele receber o atestado da cura.

Cumprindo a determinação os leprosos partiram, confiantes de que seriam beneficiados por aquele famoso taumaturgo.

Esse fervor caracteriza o comportamento das pessoas que, desenganadas pela medicina da Terra, apelam para os poderes do Céu.

E mais uma gloriosa intervenção de Jesus aconteceu.

Em plena caminhada, os dez homens perceberam que a pele se recompunha, as manchas desapareciam…

A cura, tão ardentemente desejada, consumava-se!

Um deles apenas, por sinal samaritano, voltou para agradecer, glorificando a Deus em altas vozes.

Perguntou Jesus aos circunstantes:

Não foram dez os que foram limpos? Onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?

Péssima média!

De dez beneficiados por Jesus, um apenas deu-se ao trabalho de lhe agradecer, e nem sabemos se foi além disso. Não há notícias sobre possível participação na comunidade dos discípulos.

É assim mesmo.

Essas reações são típicas da natureza humana.

O fenômenos, mesmo quando envolvam prodígios de cura, funcionam como fogos de artifício.

Empolgam, atraem, deslumbram, mas logo passam, sem deixar rastros.

Iluminam o Céu, sem grandes repercussões na Terra.

***

Algo semelhante ocorre com o Espiritismo.

Milhares de pessoas passam pelo Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, anualmente. Se todos os beneficiários dos serviços de passes e atendimento espiritual se convertessem, em breve teríamos a maior comunidade espírita da Terra.

Assim como nos tempos de Jesus, as pessoas continuam preocupadas com o imediatismo terrestre, sem cogitações espiritualizantes. Desejam apenas a cura de seus males e solução de seus problemas. Aceitam os princípios doutrinários, confiam na proteção dos Espíritos, colhem de suas dádivas, mas…

Falta-lhes algo que Michel Quoist define maravilhosamente, num poema inesquecível:

Saí, Senhor,

Lá fora os homens saíram,

Iam,

Vinham,

Andavam,

Corriam.

As bicicletas corriam,

Os automóveis corriam,

Os caminhões corriam,

A rua corria,

A cidade corria,

Todo o mundo corria.

Corriam todos, para não perder tempo:

Corriam ao encalço do tempo,

para recuperar o tempo,

para ganhar tempo.

Até logo, doutor, desculpe-me – não tenho tempo.

Passarei outra vez, não posso esperar mais – não tenho

tempo.

Termino esta carta – pois não tenho tempo.

Queria tanto te ajudar – mas não tenho tempo.

Não posso aceitar, por falta de tempo.

Não posso refletir, nem ler, ando assoberbado – não

tenho tempo.

Gostaria de rezar – mas… eu não tenho tempo.

Compreendes, Senhor, eles não tem tempo.

A criança está brincando, não tem tempo agora mesmo…

mais tarde…

O estudante tem seus deveres a fazer, não tem tempo…

mais tarde…

O universitário tem lá suas aulas, e tanto, tanto trabalho

que não tem tempo… mais tarde…

O rapaz pratica esporte, não tem tempo… mais tarde…

O que casou, há pouco, tem sua casa, deve organizá-la,

não tem tempo… mais tarde…

O pai de família tem seus filhos, não tem tempo… mais

tarde…

Os avós têm seus netos, não têm tempo… mais tarde…

Estão doentes. Precisam tratar-se… não têm tempo…

mais tarde…

Estão à morte, não têm…

Tarde demais… não tem mais tempo.

Assim correm todos os homens atrás do tempo, Senhor.

Passam correndo pela Terra

apressados,

atropelados,

sobrecarregados,

enlouquecidos,

assoberbados,

Nunca chegam, falta-lhes tempo,

Apesar de todos os esforços, falta-lhes tempo,

Falta-lhes mesmo muito tempo.

Com certeza, Senhor, erraste os cálculos.

Há um engano geral:

Horas curtas demais,

Dias curtos demais,

Vidas curtas demais.

Tu que estás fora do tempo, Senhor, sorris ao ver-nos

assim brigar com ele,

E sabes o que fases.

Não te enganas quando distribuis o tempo aos homens,

A cada um dás o tempo de fazer o que queres que faça.

Mas é preciso não perder tempo,

não esbanjar tempo,

não matar o tempo,

Pois o tempo é um presente que nos dás.

Presente perecível,

Um presente que não se conserva.

Tenho tempo, Senhor,

Tenho todo o meu tempo,

Todo o tempo que me dás,

Os anos de minha vida,

Os dias de meus anos,

Os minutos de meus dias,

São todos meus.

Cabe-me preenchê-los

tranqüilamente,

calmamente,

Mas preenchê-los inteirinhos, até a borda,

Para dá-los a Ti

– e que, da água sem sabor,

faças um vinho generoso

como outrora, em Caná,

fizeste para as bodas humanas.

Nesta noite eu não te peço, Senhor, o tempo de fazer

isto e depois aquilo,

Peço-te a graça de fazer, conscienciosamente, no tempo

que me dás, o que queres que eu faça.

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