Chico Xavier

Chico Xavier de pé, Wanda, Rômulo Joviano e Maria

Fazenda Modelo, Pedro Leopoldo, MG

“Conheço um homem que tem, na vida, procurado a plenitude... Um homem que aspira a integrar-se no Cristo... Sua existência tem-se constituído de renúncia e sacrifício... Vivesse nos tempos primeiros do Cristianismo, seria tomado por um dos apóstolos que seguiam o Mestre... Tivesse nascido alguns poucos séculos atrás, se confundiria com o inolvidável místico de Assis...

Um dia, sua biografia será escrita... Mas temo que não venha a retratar com fidelidade o seu viver... Quase toda biografia é informação... E os grandes homens não cabem nem mesmo dentro do perfil biográfico que a História lhes traça, mais tarde...

Conheço um homem que seria um coração a serviço do evangelho em qualquer parte, em qualquer condição, em qualquer religião... Quando fala em Jesus, estremece... Quando ora, se rende às lágrimas... Quando abraça alguém, o faz com Amor... Quando beija as mãos de outrem. É júbilo só...

Conheço um homem de duas vidas... A pública, que é maravilhosa... A Íntima, que é mais bela ainda... Um homem que ama os animais; conversa com eles e se entendem... Um homem que ama as plantas; conversa com elas e se regozija...

Conheço um homem com coração de criança, com alma cândida e bela... Um homem que os muitos sofrimentos mais aproximaram de Deus... É a abnegação em pessoa, capaz de ceder sempre em benefício dos outros, de se oferecer em renúncia para que alguém seja feliz...

Conheço um homem como não sei de nenhum outro... Como ele, só de século em século surge na Terra... Ninguém, que eu venha a conhecer de futuro, com certeza não o substituirá... Conviver com ele, mesmo a certa distância, tem sido para mim um privilégio, uma benção... Longe estão de saber quem é ele, os que se limitam a olhá-lo de longe... Esse homem tem o mágico poder de transformar espinhos em flores, lágrimas em sorrisos, pedras em degraus, sombras em luzes...

Conheço um homem que nem mesmo a família sabe que tem em casa... Um homem que tem peregrinado no mundo em solidão, ele com as suas ‘vozes’...

Um dia, eu sei, muito se escreverá sobre ele... E eu, que o conheço, pelo menos melhor que muita gente, quero ler tudo para conferir... Conferir e ver quem terá sensibilidade bastante para retratar-lhe o coração, que, de tanto amar, se transformou numa chama que aquece sem queimar, ilumina sem ofuscar... Um dia, eu já sei, muito especularão em torno da sua vida... Não tem sido assim com a vida do próprio Cristo? Esse Amigo Incondicional não tem sido tão incompreendido através dos tempos? Quantas separações em nome d’Ele!...

Conheço um homem que habita uma casinha simples, seus hábitos são simples, sua maneira de vestir é simples... Sua alegria é contagiante, sua voz soa como um consolo... Sua maneira de falar nos cativa... Como sendo tão plural, pode ser tão singular?!

Conheço um homem que, tenho uma leve suspeita, a Natureza determinou que no crânio se lhe instalasse o coração e no peito se lhe encarcerasse o cérebro...

E eu estou aqui, caneta em punho tentando em vão dizer ao mundo quem é esse homem que assim me fascina... Para mim, é um pai, um irmão, um amigo, um confidente, um orientador... Sei que não vou conseguir retratá-lo nas letras com perfeição, mas devo tentar aproximar-me ao máximo... Desejo que os pósteros saibam da existência desse homem, como o conheço e como o sinto, como o vejo e como o amo...

Sim, amigos, esse homem que conheço se impõe uma disciplina extraordinária... Agora, algo desgastado pelos janeiros, arrasta o corpo que habita, superando as próprias inibições físicas... seu peito está doendo, a pressão baixíssima, a angina, que já lhe provocou dois enfartes, castiga-o inclemente... Mas ele precisa viver, pois muitos precisam dele – representa a última esperança de uma multidão aflita, açoitada pelas adversidades da jornada...

Sim, irmãos, eu conheço um homem que talvez seja o instrumento mais afinado e mais melódico, mais perfeito e mais leal que a Espiritualidade já teve à sua disposição entre os encarnados. Ele encarna a mediunidade no que ela tem de mais sublime...

Esse homem está passando e deixando após si um rastro de luz... Sua vida é uma benção, uma fonte que dessedenta, um fruto maduro pendente a se oferecer...

Conheço um homem que gostaria de que todos conhecessem como eu... Mas, infelizmente, apesar de todos saberem seu nome, poucos o conhecem... Sei que, lendo estas linhas espontâneas, a maioria me chamará idólatra ou qualquer coisa que o valha... Mas não me importo... Preciso dar o meu testemunho, preciso fazer justiça a quem tem sido tão injustiçado... É uma pena que vários confrades não tenham podido, até agora, compreendê-lo... Um dia, sentirão o grande vazio que ele deixará; só então saberão quanto é grande... Tardiamente, lamentarão...

Quero também dizer que a sua amizade, para mim, é revestida de um profundo sentimento de respeito, sem bajulações... Sei que ele não carece do que registro aqui, que nunca me pediu nada em troca pelo muito que oferece a mim e aos meus... Nem estou redigindo esta página em gratidão; estou apenas querendo abrir um pouco mais os olhos de tantos por aí que não sabem o que dizem, o que pensam, o que insinuam...

Conheço um homem que nem nome tem mais... Sua personalidade está a serviço do Mais Alto, sua vontade submetida à Vontade Maior...

Esse espírito materializado que conheço diz ser apenas um CISCO...” (Texto de Carlos Baccelli. Extraído do Livro: O Voo da Garça; Chico Xavier em Pedro Leopoldo 1910-1959)

Jhon Harley cumprimentando Chico Xavier e Chico Xavier com Zeca Machado

(Texto e fotos do livro O Vôo da Garça, recebidos em email de Jhon Harley)