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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A necessidade da organização social para defender a vida

Entrevista com Marilia de Castro

Por Eliana Ferrer Haddad e Izabel Vitusso

PUBLICADA POR

JANEIRO/FEVEREIRO 2011

Espírita atuante, a advogada Marília de Castro é coordenadora geral da Rebrates – Rede Brasileira do Terceiro Setor, que reúne cerca de duas mil entidades ligadas principalmente à assistência social, saúde e educação. Também é coordenadora do Estado de São Paulo do Movimento Nacional em Defesa da Vida – Brasil sem Aborto. Mais do que representar entidades e estar à frente de diversos movimentos sociais, Marília tem ainda como desafio ser mãe de cinco filhos – Nathália (29) Livia (27) Julio (25) Hellen (23) Caroline (21) – de seu casamento com Clodoaldo de Lima Leite, também ativo no espiritismo e nos movimentos sociais, sendo inclusive o representante da FEB, em Brasília, no Conselho Nacional de Assistência Social.

Conversar com Marília de Castro nos leva a ter certeza de que a união faz realmente a força e que os nossos compromissos como espíritas vão muito além das satisfações individuais de bem-estar e vontade de evoluir, mas de vivermos com maior consciência e responsabilidade como verdadeiros cidadãos do mundo, agentes transformadores pelo amor. Seus argumentos demonstram que é preciso participar dos movimentos sociais que defendem uma vida coletiva mais feliz, onde o envolvimento de cada um faz a diferença e é sempre imprescindível para a construção de um mundo melhor.

A defesa da vida é somente uma questão de religião?

É também questão de cidadania, de legislação. No Brasil, a Constituição Federal garante a inviolabilidade do direito à vida. O Código Civil protege os direitos do nascituro (nenê no ventre materno). Há, no entanto, um projeto de lei na Câmara Federal que pretende legalizar o aborto até o nono mês da gravidez. É o Projeto de Lei (PL) 1135/91. Se nós somos contra este projeto, temos que nos pronunciar, não só no centro espírita, como na imprensa, em outros eventos, dialogar com deputados e senadores, que votarão a nova lei.

O espiritismo é contra o aborto, exceto nos casos em que a vida da mãe esteja em perigo...

Sim. E deixa muito claro que a união do espírito com o corpo começa na concepção, como consta nas questões 344 e 358 de O livro dos espíritos. Há inúmeras mensagens mediúnicas que defendem a vida e que informam as consequências espirituais do aborto, para o pai, mãe, médico, e outras pessoas envolvidas, como, por exemplo, o capítulo 31 do livro Nosso lar, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier.

O que dizer sobre a ideia daqueles que defendem que cabe à mulher o direito de optar pela continuidade ou não de sua gravidez?

Este argumento se assemelha ao do período da escravidão no Brasil, em que se admitia que o senhor do engenho torturasse e matasse o negro escravo, considerado sua propriedade. O nenê não é propriedade da mãe, nem do pai. Não é corpo da mãe. Não tem o mesmo DNA. Aliás, a maioria das mulheres é contrária ao aborto, pois as consequências físicas e psicológicas permanecem com elas. Muitas optam pelo aborto, porque o homem estimula este ato, ao não assumir o filho, obrigando-a a cometer o crime. É fundamental refletir sobre o que está levando aquele casal, ou aquela mulher a optar pelo aborto. É necessária política pública de proteção à maternidade, à paternidade responsável e à família.

Você sempre está à frente de temas sociais, inclusive presidiu o 1º Simpósio Jurídico Espírita na Ordem dos Advogados do Brasil em 1988, defendeu entidades espíritas e não-espíritas no Supremo Tribunal Federal. Como é possível dividir o tempo na família, profissão, movimento espírita e movimento social?

É um exercício constante. Claro que não é fácil. Desde muito jovem, tinha a preocupação com a justiça e com a união das pessoas de bem. Aos 17 anos ingressei na faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Tornei-me advogada e atuante. Ao mesmo tempo o movimento de unificação espírita sempre me entusiasmou desde a juventude. A certeza da imortalidade, da reencarnação, da importância do trabalho e do desenvolvimento do amor seja na família ou na sociedade foram agentes motivadores da minha vida. Hoje meus filhos são jovens e compartilhamos experiências constantemente. Conversamos muito sobre tudo, fazendo também o Evangelho no Lar. A dedicação à família, à profissão e demais atividades deve ser focada. Não é a quantidade, mas a qualidade do tempo empregado que interessa.

Você acredita que falta aos espíritas uma maior participação nos movimentos que envolvem a coletividade, um posicionamento mais expressivo junto às autoridades pelo bem social? Por quê?

Na história do espiritismo, no campo individual, há líderes admiráveis e corajosos, que se destacaram. Entretanto, para várias pessoas o interesse pessoal ainda se sobrepõe ao interesse coletivo. Como movimento espírita, estamos presenciando alguns avanços expressivos em direção à participação social. Os passos dependerão do nível de consciência individual e coletivo. Na questão 642 de O livro dos espíritos, Kardec pergunta: “Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?” Os espíritos repondem: “Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.”

Você fala em avanços no movimento espírita em direção à participação social, poderia citar alguns?

Um deles é esse movimento que defende o primeiro de todos os direitos: o direito à vida. Quando poderíamos pensar, anos atrás, de irmos ao Congresso defender a vida, ou participar em atos públicos em ruas, praças, buscando o aprimoramento da legislação humana? Estamos levando a mensagem para além do centro espírita. Em 1988, realizamos o primeiro Simpósio Jurídico Espírita na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo. Há associações importantes que se posicionam em temas relevantes como Associação dos Médicos Espíritas, dos Magistrados Espíritas, dos Jurídicos Espíritas, Associação dos Psicólogos, Delegados, Educadores Espíritas e outras. Estas associações trabalham unidas em alguns temas. O aperfeiçoamento da união das pessoas e das organizações é fundamental. O Conselho Federativo Nacional/FEB se pronuncia sobre temas como aborto, pena de morte, assistência social e diversos outros; como também apoiou produção cinematográfica do filme Nosso Lar. A imprensa espírita dá espaço a temas referentes à cidadania, como este do Correio Fraterno.Veja a Rádio Boa Nova, sempre noticiou com destaque os Atos Públicos em defesa da Vida , inclusive realizando cobertura na Praça da Sé no dia do evento. Temos que contribuir com a sociedade, respeitando as diferenças, como está destacado no Evangelho segundo o espiritismo quando descreve as características do homem de bem. Somos agentes da história. Os espíritas têm a convicção da lei do progresso, e a fundamental importância de adequarmos a lei humana à lei divina. Cada um deve se perguntar se está afinado com esta nova fase, com este novo estágio evolutivo no nosso movimento, que cresce dia a dia para contribuição efetiva à sociedade, no exercício do amor conforme ensinamentos do Cristo. O amor é atuante. Incansável. Sem preconceitos. O isolamento nos deixa orgulhosos, vaidosos, presunçosos. Estar no mundo, colaborar com a sociedade é colocar a mensagem do amor na prática.

Como começou o Movimento Nacional da Cidadania pela vida- Brasil sem aborto ?

O movimento nasceu há seis anos visando a valorização da vida e se opondo à aprovação deste projeto que legaliza o aborto até o nono mês da gravidez. É um movimento de cidadania que reúne todos os que defendem a vida desde a concepção, por meio de manifestações pacíficas, de natureza suprapartidária, suprarreligiosa, plural e democrática. O movimento conta com um comitê nacional, e comitês estaduais e a cada dia conquista novos integrantes, que vêm se organizando em caminhadas e eventos em todo Brasil. E é este entusiasmo que contagia as pessoas, as entidades, as organizações religiosas, as associações, cidades inteiras que se juntam em caravanas para que todos possam demonstrar ao país a verdadeira opinião da sociedade sobre este tema tão relevante. A primeira grande manifestação foi o Ato Público em Defesa da Vida, em São Paulo, há cinco anos. Mais de 10 mil pessoas se reuniram na Praça da Sé. Este evento ecoou por todo o país e se espalhou pelas cidades, dando origem a diversas manifestações, caminhadas e atos públicos semelhantes, culminando com a grande Marcha Nacional da Cidadania em Defesa da Vida – Contra a Legalização do Aborto, realizada em Brasília na Esplanada dos Ministérios. Não se trata de um movimento isolado dentro do espiritismo. A FEB integra a sua direção e fez pronunciamentos em todos os quatro grandes Atos Públicos na Praça da Sé. Participaram ainda muitas caravanas da USE - União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, de centros espíritas e associações. Outras organizações religiosas estão unidas também à direção do comitê como Igreja Católica, Evangélica, Seicho-no-iê, LBV [Legião da Boa Vontade] e tantas outras, demonstrando a capacidade de fratenidade dos brasileiros que se reúnem sob a mesma bandeira da vida.

Quais as reais conquistas? Há ainda chances de o aborto ser aprovado no Brasil?

A primeira grande vitória foi escancarar a intenção do Projeto de Lei 1135/91, que ia ser aprovado sem nenhum debate na sociedade. Imagine: aborto até o nono mês! Nas pesquisas, após o trabalho de esclarecimento do movimento na imprensa e nas manifestações, 97% dos brasileiros e brasileiras demonstraram que são contra o aborto, mas o projeto estava para ser aprovado no silêncio. Com as ações do Movimento Nacional e da Frente Parlamentar em Defesa da Vida conseguimos outras duas grandes vitórias: rejeição na comissão de Seguridade Social e na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados. Os deputados viram e ouviram a vontade da nação. Porém, devido a um novo recurso, esta lamentável proposta deve ser levada à votação no plenário da Câmara. Ainda corre o risco de ser aprovado. É necessário manter a vigilância, as manifestações e o diálogo.

O que você diz desta experiência de ação suprapartidária e suprarreligiosa?

É uma profunda vivência da fraternidade. A sociedade civil precisa se organizar defendendo grandes bandeiras. Há muito mais pontos convergentes do que divergentes. É bom lembrar a questão 932 de O livro dos espíritos: “Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão”. Concluímos com esta reflexão que são necessárias a união e a ação das pessoas de bem.

Por que há ainda temor de se participar dos movimentos sociais para defender direitos? É cultura ou alienação?

Pode até ser um misto de cultura e alienação, porém, acredito que seja necessária uma constante educação para a cidadania. Na Rebrates há um lema: Não há governo ruim para povo organizado. Cada vez fica mais claro para sociedade civil, que a união e ação são fundamentais para mudanças sustentáveis. A Rebrates já obteve vitórias importantíssimas em outros temas, como alteração de dispositivos do Código Civil que contrariavam a liberdade de associação no país, e de alterações de projetos relativos à assistência social. Tudo fruto de muita atuação direta no Congresso Nacional ou no Judiciário. Se queremos impedir uma lei injusta, precisamos demonstrar a nossa vontade. Para edificarmos este mundo com que tanto sonhamos, não adianta ficar reclamando, descrente da mudança. O fundamental é a atitude. Atitude pelo bem comum. Somos cidadãos. Somos espíritos imortais em ação, construtores dos nossos destinos. Todos somos importantes na construção de um mundo mais justo e mais fraterno. Sem medo, sem comodismo e com muita esperança: mãos à obra.

E neste ano de 2011, o que podemos fazer? Como participar?

Vamos comparecer às marchas e atos públicos, em favor da vida, reafirmando a verdadeira vontade do povo brasileiro. Dia 26 de março, sábado, a partir das 9h30, a Marcha em Defesa da Vida será nas ruas do centro de São Paulo. Tudo com muita música e muita alegria, envolvendo artistas, legisladores, esportistas, juristas, cientistas, todos defendendo o mais vulnerável: o nenê no ventre materno.

Para saber mais: Fone (11) 3244-3660, e site www.brasilsemaborto.com.br

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