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sábado, 16 de outubro de 2010

Conflitos Domésticos

Richard Simonetti

richardsimonetti@uol.com.br



Um dos mais graves problemas humanos está na dificuldade de convivência no lar. Pessoas que enfrentam desajustes físicos e psíquicos têm, não raro, uma história de incompatibilidade familiar, marcada por frequentes conflitos.

Há quem os resolva de forma sumária: o marido que desaparece, a esposa que pede divórcio, o filho que opta por morar distante.

Justificando-se em face das tempestades domésticas alguns espíritas utilizam o conhecimento doutrinário para curiosas racionalizações:

– Minha mulher é o meu carma: neurótica, agressiva, desequilibrada. Que fiz de errado no passado, meu Deus, para merecer esse trem?!

– Só o Espiritismo para me fazer tolerar meu marido. Aguento hoje para me livrar depois. Se o deixar agora terei que voltar a seu lado em nova encarnação. Deus me livre! Resgatando meu débito não quero vê-lo nunca mais!

Conversávamos com idosa confreira que teve conturbada convivência com o esposo, falecido há alguns anos. E lhe dizíamos, brincando:

– A senhora vai ficar feliz quando desencarnar. Reencontrará seu querido. Ele a espera...

A resposta veio pronta, incisiva:

– Isso nunca! Prefiro ir para o inferno!

Um pai nos dizia:

– Certamente há um grave problema entre eu e meu filho, relacionado com o passado. Em certas ocasiões sinto vontade de esganá-lo. Ele me desafia, olha-me com ódio. Preciso controlar-me para não perder a cabeça.

Realmente, nesses relacionamentos explosivos que ocorrem em muitos lares há o que poderíamos definir como compromisso cármico. Espíritos que se prejudicaram uns aos outros e que, não raro, foram inimigos ferozes, reencontram-se no reduto doméstico. Atendendo a imperativos de reconciliação, no cumprimento das leis divinas, enfrentam dificuldades para a harmonização, mesmo porque conservam, inconscientemente, a mágoa do passado. Daí as desavenças fáceis que conturbam a vida familiar.

Naturalmente, situações assim não interessam à nossa economia física e psíquica e acabam por nos desajustar. Imperioso considerar, todavia, que esses desencontros são decorrentes muito mais de nosso comportamento no presente do que dos compromissos do pretérito. Não seria razoável Deus nos reunir no lar para nos agredirmos e magoarmos uns aos outros. Ouvimos, certa feita, de Henrique Rodrigues, conhecido expositor espírita, uma expressão feliz a respeito do assunto: Deus espera que nos amemos e não que nos amassemos.

É incrível, mas somos ainda tão duros de coração, como dizia Jesus, que não conseguimos conviver pacificamente. Reunamos duas ou mais pessoas numa atividade qualquer e mais cedo ou mais tarde surgirão desentendimentos e desarmonia. Isso ocorre principalmente no lar, onde não há o verniz social e damos livre curso ao que somos, exercitando o mais conturbador de todos os sentimentos, que é a agressividade.

Neste particular, o estilete mais pontiagudo, de efeito devastador, é o palavrão. Pronunciado sempre com entonação negativa, de desprezo, deboche ou cólera, é qual raio fulminante. Se o familiar agredido responde no mesmo diapasão, o que geralmente acontece, explode o ambiente, favorecendo a infiltração de forças das sombras. A partir daí tudo pode acontecer: gritos, troca de insultos, graves ofensas e até agressões físicas, sucedidos, invariavelmente, por estados depressivos que desembocam, geralmente, em males físicos e psíquicos.

Se desejamos melhorar o ambiente doméstico, em favor da harmonização, o primeiro passo é inverter o processo de cobrança. Normalmente, os membros de uma casa esperam demais uns dos outros, reclamando atenção, respeito, compreensão, tolerância... A moral cristã ensina que devemos cobrar tudo isso sim, e muito mais, mas de nós mesmos, porquanto nossa harmonia íntima depende não do que recebemos, mas do que damos. E, melhorando-nos, fatalmente estimularemos os familiares a fazer o mesmo.

Todos aprendemos pelo exemplo. Está demonstrado que crianças carentes de afeto têm muita dificuldade para amar. Será que estamos dando amor aos familiares? Não é fácil fazê-lo, porquanto somos Espíritos imperfeitos. Mas foi para nos ajudar que Jesus esteve entre nós, ensinando-nos como conviver harmoniosamente com o semelhante, exercitando valores de humildade e sacrifício, marcados indelevelmente pela manjedoura e pela cruz.

Um companheiro afirma, desalentado:

– Tenho feito todo o possível para harmonizar-me com minha esposa, cumprindo o Evangelho. Esforço quase inútil, porquanto ela é uma pessoa intratável, sempre irritada e agressiva. Não sei o que fazer...

Talvez lhe falte um tanto mais de perseverança, já que é impossível alguém resistir indefinidamente à ação do Bem.

Parta- se do princípio lógico: Quando um não quer, dois não brigam. Não existem brigas unilaterais. Em qualquer circunstância, em favor de nossa paz, é importante perseverarmos nos bons propósitos, cumprindo a recomendação de Jesus: Perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete.

Quem sempre perdoa, sustenta sempre o próprio equilíbrio.

A propósito, no livro A Sombra do Abacateiro Carlos Baccelli, reporta-se a sugestivo episódio relatado por Francisco Cândido Xavier. Dizia o querido médium:

Em Pedro Leopoldo, fomos procurados por uma senhora sofredora que era casada há dezoito anos... Tinha lições difíceis para dar; seu esposo e seus dois filhos eram complicados; era obrigada a pensar em perdão, em bondade e em compaixão muitas vezes por dia. E pedia a Emmanuel uma orientação.

Ele respondeu que ela deveria continuar perdoando sempre.

Ela replicou que já estava cansada, doente, ao que o nosso Benfeitor redarguiu, lembrando que existiam milhões de pessoas no mundo, cansadas e doentes também... Emmanuel recordou o que disse Jesus a Pedro: Perdoarás setenta vezes sete.

Aquela irmã respondeu, então:

– Olha, meu caro amigo, eu já fiz as contas e eu já ultrapassei, em dezoito anos, o número quatrocentos e noventa...

Depois de uma breve pausa, Emmanuel lhe falou por fim:

– Mas você se esqueceu de uma coisa; é perdoar setenta vezes sete cada ofensa...”

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