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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Reencarnação e Esquecimento II

richardsimonetti@uol.com.br



A concepção reencarnacionista está presente nos textos sagrados de todas as civilizações, desde as mais antigas, como a hindu, a egípcia, a chinesa, e também na Bíblia. No Novo Testamento, vemos Jesus falar inúmeras vezes a respeito do assunto, a começar pelo célebre diálogo com Nicodemos (João 3,1 - 21), em que proclama ser indispensável o renascimento para entrar no Reino de Deus.

Incisiva a passagem em que os discípulos lhe perguntam sobre a vinda de Elias (segundo as tradições bíblicas, aquele profeta, que vivera há nove séculos, deveria voltar à Terra como precursor do Messias, preparando seus caminhos). Jesus responde que Elias já viera e que os homens tinham feito com ele o que lhes aprouvera. O evangelista Mateus, que registrou o episódio (17,9 - 13), termina significativamente o relato, revelando: Então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista (este tinha sido decapitado, a mando de Herodes).

E há os fundamentos filosóficos, decisivos, irresistíveis... Sem a anterioridade da vida física como explicar a diversidade de condições físicas, mentais, morais, espirituais, sociais, culturais, existente na Terra? Como justificar o gênio contrapondo-se com o idiota? O santo e o facínora? O virtuoso e o viciado? O atleta e o aleijado? O sábio e o obtuso? Como aceitar a justiça de Deus sem conceber esse encadeamento de múltiplas existências, em que, quais alunos matriculados num educandário, recebemos lições compatíveis com nossas necessidades evolutivas?

Nesse contexto, há razões para o esquecimento. Em primeiro lugar, por uma questão de limitação física. Nosso corpo não possui a complexidade que comporte a consciência de experiências não registradas pelos cinco sentidos. Somente em circunstâncias especiais a memória extracerebral, faculta-nos um contato com nosso passado.

Há um motivo de ordem prática: cada existência encerra em si mesma um ciclo de experiências que seriam embaralhadas, confundindo-nos se estivéssemos de posse das lembranças do pretérito, impondo-nos constrangimentos perturbadores. Imaginemos uma criança a contestar o parentesco com pais e irmãos, alegando ter outra família; o adolescente que enxerga no pai de hoje o filho de ontem, ou na irmã de ontem a mãe de hoje; o homem que possuía brilhante inteligência e agora experimenta as limitações de um cérebro deficiente; o pária que foi nobre; o racista que se vê filho da raça que oprimiu...

Sem passar borracha no passado tais situações seriam muito complicadas. Sobretudo, seria difícil vencer um dos mais graves problemas humanos: o ódio, que é a negação dos princípios de fraternidade que regem o Universo. Obedecendo aos imperativos da reconciliação, inimigos ferrenhos se reencontram no lar, ligados pelos laços da consanguinidade, a ensejar que, pela convivência, a animosidade seja superada.

Mas como poderá isso ocorrer sem a bênção do esquecimento? Como abraçará um pai ao filho, sabendo que ele é um odiado desafeto? Como abrigará o filho, em seu carinho, uma mãe que identifica nele alguém que a desgraçou? Como, irmãos que foram adversários figadais, dispor-se-ão à reconciliação? Fica difícil cultivar o amor guardando os motivos que geraram o ódio.

E todos temos, no círculo familiar, programas dessa natureza. O próprio relacionamento difícil, frequente entre membros da família, indica que ali estão desafetos chamados à harmonização. Olvidaram as ofensas ao reencarnar mas, conservam, nos refolhos da consciência, a mágoa do passado.

O esquecimento se situa, sobretudo, por manifestação da Misericórdia Divina, oferecendo-nos a bênção do recomeço. Imaginemos um homem comprometido com crimes e viciações, colhido nas grades do remorso, que experimenta o despertar da consciência, acicatando-o tão fortemente que o faz sentir-se o mais miserável dos seres, paralisando-lhe as iniciativas.

– Ah! Se fosse possível enfrentar os labores da redenção sem lembranças torturantes!...

É exatamente isso que Deus nos oferece: a misericórdia do esquecimento para que, na abençoada oportunidade do recomeço, enfrentemos progressivamente o resgate de nossos débitos sem nos afogarmos no oceano de nossas culpas.


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