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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Censo Demográfico e Espiritismo



Paulo Sérgio Perri de Carvalho

Cirurgião Dentista, professor da UNESP de Araçatuba e USP de Bauru

Presidente da Instituição Nosso Lar de Araçatuba

Neste ano, o IBGE está realizando o XII Censo Demográfico, que se constituirá no grande retrato em extensão e profundidade da população brasileira e das suas características sócio econômicas e, ao mesmo tempo, na base sobre a qual deverá se assentar todo o planejamento público e privado da próxima década.

Entre os quesitos a serem respondidos encontra-se o questionamento sobre a religião que o cidadão professa mas, entre as religiões citadas e, particularmente, a Doutrina Espírita está classificada sob o código “610” mas com o mesmo código são relacionadas inúmeras religiões espiritualistas e que nada tem a ver com os princípios espíritas. Entendemos que todas as religiões merecem o nosso respeito mas é preciso esclarecer que existem diferenças significativas entre o entendimento das diversas doutrinas ou religiões espiritualistas e que usam o intercâmbio espiritual como objetivo maior.

A Doutrina Espírita ou o Espiritismo é uma religião codificada por Allan Kardec e que tem suas bases publicadas nos livros: “O Livro dos Espíritos”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Livro dos Médiuns”, “A Gênese”, “O Céu e o Inferno” e “Obras Póstumas” e teve seu início a 18 de abril de 1857 com o lançamento do primeiro livro da relação acima citada. Tem como princípios a crença em Deus, na imortalidade da alma, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados, no intercâmbio com o mundo espiritual por meio da mediunidade responsável tendo os seus princípios morais baseados nas lições da vida do Cristo.

Allan Kardec, na Introdução de “O Livro dos Espíritos” emite as seguintes considerações: “Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.”

A Federação Espírita Brasileira não foi consultada em momento algum para prestar esclarecimentos na elaboração das respostas relativas a religião e quando o questionário foi disponibilizado, observou-se que havia uma sequência de opções de designação religiosa com o mesmo código (610. Como não há tempo hábil para mudar a programação estipulada pelo IBGE e considerando que a pesquisa nacional já se encontra em curso, a Federação Espírita Brasileira, emitiu o documento “Recomendação aos Espíritas”, assinado pelo Sr. João Pinto Rabelo (Diretor de Comunicação Social da FEB) por orientação do Sr. Nestor Masotti, Presidente da FEB, que recomenda aos espíritas, ao serem consultados pelos pesquisadores do Censo 2010, que respondam com as opções: Allan Kardec, cardecista, cardecismo, kardecista, kardecismo, Centro Espírita, Doutrina Espírita, Federação Espírita Brasileira ou Espiritismo.

(Artigo publicado no jornal Folha da Região, Araçatuba, SP, 11/8/2010)






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