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quinta-feira, 27 de maio de 2010

JORNAL DA ABI - MARÇO DE 2010 Por Paulo Chico

Centenário de nascimento de Chico Xavier é festejado este ano com o lançamento de filmes no cinema e dvds documentais. A data comemorativa dá mais visibilidade e gera a expansão do mercado de publicações – jornais e revistas – que divulgam a doutrina espírita. É hora de conhecê-las melhor.


Dia 2 de abril de 1910. Francisco de Paula Cândido nasce na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Morto, aos 92 anos, atendia pelo nome Chico Xavier. Pois é justamente na data em que completaria 100 anos – a primeira sexta-feira de abril de 2010 – que o mais popular médium brasileiro volta à vida. Reencarna nas telas do cinema. A estréia do filme que conta sua histórialança novas luzes sobre a trajetória do homem que deu voz a tantos outros. E traz à cena, mais uma vez, a diversidade religiosa do Brasil. País católico por formação, mas cuja prática, desde sempre, cultiva o sincretismo. Uma das correntes com maior número de adeptos é justamente o espiritismo. Prova disso é que, além das fronteiras dos cultos ou sessões, faz tempo que os princípios da doutrina de Allan Kardec ganharam as ruas, em páginas de centenas de publicações. Elas são muitas. Jornais e revistas, títulos normalmente vendidos em bancas. Outros, apenas distribuídos em associações religiosas. Alguns dispõem de serviço de assinatura e sites, atualizados e com moderno arquivo digitalizado. Neste mês de março, como não poderia deixar de ser, Chico Xavier foi capa de praticamente todas essas edições. Algumas dessas publicações são mais antigas que o próprio médium, transcendem seu centenário. É o caso da revista Reformador, que surgiu como jornal, em 21 de janeiro de 1883, e passou a ser órgão institucional da Federação Espírita Brasileira, desde a sua fundação, no dia 2 de janeiro de 1884. É daqueles casos raros de publicações periódicas que surgiram no século XIX e circulam até hoje.


“O Reformador” foi fundado por Augusto Elias da Silva, um fotógrafo português radicado no Rio, com recursos retirados de seu próprio patrimônio. A redação funcionava em seu endereço de residência e trabalho, na Rua da Carioca, 120, 2º andar. Começou com limitada

tiragem, com quatro páginas. Hoje, temos 30 mil exemplares encaminhados, sem ônus, a mais de 12 mil casas espíritas do Brasil, a sócios e assinantes”, explica o Editor Altivo Ferreira, destacando que a proposta da revista, que não conta com publicidade mas divulga

obras editadas pela Federação, é publicar artigos e matérias sobre o espiritismo e o movimento no Brasil e no exte-rior. Para isso, conta com uma equipe no Rio, constituída por um diretor, um editor, três redatores, um jornalista responsável e um secretário, além de diagramadores e revisores. A editoração é feita no parque gráfico da Federação. A pauta é constituída por artigos de colaboradores permanentes e voluntários, observados os princípios espíritas. “Ela é feita com o objetivo de levar o conhecimento aos adeptos e simpatizantes da doutrina, e à sociedade em geral, sem qualquer preocupação de

fazer proselitismo”, destaca Altivo.


No entanto, ele reconhece que o momento é amplamente favorável à divulgação

do kardecismo: “O próprio mercado de publicações espíritas experimenta um boom, tendo

em vista a expansão dessa doutrina nos últimos tempos, o que pode ser constatado pelo grande interesse que o espiritismo tem despertado no público em geral, podendo ser dadas como exemplo as comemorações do centenário de nascimento do Chico Xavier. Além disso, o preconceito que sofríamos foi em grande parte combatido pela presença

da temática espírita em novelas, programas de televisão e filmes.”


PAUTA FACTUAL, MAS COM FOCO NO ESPIRITISMO

Outra expressiva publicação do segmento é o Correio Espírita, jornal mensal que circula praticamente em todo o Brasil. Mais precisamente, com a venda direta nas bancas, ao preço de R$ 1,50, está presente nas capitais de nove Estados, além de algumas cidades do interior, com tiragem média de 15 mil exemplares. “Nossas matérias são factuais, mas sempre voltadas para a ótica espírita, inclusive fazemos questão de fundamentar os conceitos nas obras básicas da doutrina de Allan Kardec. Existem também algumas abordagens como

suicídio, aborto, eutanásia e tabagismo. São temas polêmicos, sobre os quais procuramos elucidar os leitores”, afirma Marcelo José Gonçalves Sosinho, jornalista responsável do Correio Espírita e professor universitário de Comunicação Social, também do Rio. Mantido pelo Centro Cultural de mesmo nome, o Correio é jovem. Foi fundado em 3 de outubro de 2004, e seu crescimento dá noção exata do poder de fogo desse mercado. Inicialmente, eram apenas dez páginas, com periodicidade bimestral. Depois, as dez páginas tornaram-se mensais, expandindo-se logo para 12. Atualmente, circula com 16 páginas.“O espiritismo está sendo muito badalado. Na verdade, todo mundo quer saber algo mais sobre de onde veio, onde está e para onde vai. Dentro do tripé ‘Filosofia, Ciência e Religião’, o espiritismo explica tudo, consola e elucida os corações, acredita Marcelo, acrescentando que o jornal conta com publicidade, ainda que com ressalvas. “Não anunciamos tabacos, bebidas alcoólicas, motéis e qualquer tipo demisticismo. Através do setor comercial, temos também permutas”.



Em números oficiais, no Censo 2000, foram computados 2.337.432 espíritas no Brasil, o que corresponde a 1,37% da população. A região que teve mais adeptos foi a Sudeste, com 1.417.752, e o Estado com maior número de espíritas foi o de São Paulo, com 760.882. Mas esses números são relativos. Na ocasião da pesquisa, o entrevistado não tinha como opção de resposta o espiritismo. Quem era espírita marcava o X em ‘Outras’ e só alguns especificavam sua prática. Por isso, a crença de que esse número, sobretudo quando somado ao dos simpatizantes de Kardec, seja bem maior. Até mesmo pela razão de que, com o tempo, figuras como Chico Xavier e Bezerra de Menezes romperam a barreira do preconceito e são admiradas por pessoas de todos os credos. “Existem várias revistas espíritas. As mais tradicionais são O Reformador, órgão oficial da Federação Espírita, e a Revista Internacional do Espiritismo, sediada em Matão, São Paulo. Temos também a Universo Espírita, Ser Espírita, Revista do Espiritismo, todas elas vendidas em bancas. A Folha Espírita é o mais tradicional e mais antigo jornal, mas só circula em casas espíritas, principalmente em São Paulo. Existe também o Correio Fraterno, de São Paulo, com circulação nos centros espíritas locais. A nossa proposta diferenciada,

no Correio Espírita, foi captar o público espírita e também o não espírita. Por isso fomos para as bancas”, diz Marcelo José. Há exemplos de publicações que já nasceram no formato digital. É o caso da revista O Consolador, que foi ao ar pela primeira vez em 18 de abril de 2007, com atualização semanal exclusivamente na internet. Com acesso livre, não tem formato impresso nem é enviada aos leitores. “A revista não publica anúncios. Sustenta-se com recursos de seus fundadores”, diz Astolfo O. de Oliveira Filho, Diretor de Redação. Prestes a completar três anos, os números de O Consolador impressionam.“Já somamos 3,5 milhões de impressões de páginas e 658 mil downloads de textos publicados, com acessos em 95 países”, enumera ele, que também é editor do jornal mensal O Imortal, de 16 páginas e vendido por R$ 1,50.



MAIOR CURIOSIDADE AJUDA A DERRUBAR PRECONCEITOS


Citada como referência entre as publicações do gênero, a Folha Espírita é produto da FE Editora Jornalística desde 18 de abril de 1974, quando foi lançada pelo Deputado Freitas Nobre, destacado jornalista de São Paulo que chegou a liderar a bancada do antigo PTB na Câmara dos Deputados. Do início nas bancas, o jornal investe hoje nas assinaturas anuais. “As matérias são abordagens, sob o ponto de vista espírita, de fatos e tragédias do cotidiano. Nossa venda de publicidade é mínima. Este ano, porém, o movimento está mesmo em evidência. Temos sido solicitados para dar depoimentos à mídia, pelo nosso trabalho de pesquisa sobre a mediunidade do Chico, desenvolvido em conjunto com a Associação Médico-Espírita de São Paulo, que resultou em A Vida Triunfa, livro que aborda 45 casos comprovados”, diz Ana Carolina Severino, gerente da publicação, que em 2004 passou por reforma gráfica pela passagem dos seus 30 anos em circulação.


Aparecido Belvedere é Diretor da Casa Editora O Clarim, uma das mais antigas do ramo espírita, responsável pelo jornal O Clarim e pela Revista Internacional de Espiritismo, ambos fundados por Cairbar Schutel, falecido em 30 de janeiro de 1938. São 104 anos de atuação, tendo como meta a divulgação dos preceitos do espiritismo. “No jornal, fundado em 15 de agosto de 1905, damos matérias doutrinárias espíritas e o movimento nacional. Na revista, cujo primeiro número circulou no dia 15 de fevereiro de 1925, o foco são as matérias doutrinárias, algumas com versão em espanhol, sobre os movimentos espíritas nacional e internacional.


E utilizamos os dois periódicos para divulgar os 140 títulos de livros espíritas por nós editados”, destaca Belvedere, lembrando que ambas as publicações não são vendidas em bancas, e sim nas livrarias das casas espíritas. Elas contam com cerca de 14 mil assinantes em todo o Brasil, e até no exterior. “O preconceito na mídia está diminuindo, mas alguns veículos publicam matérias nem sempre com a pureza desejada. Ainda existe uma confusão de interpretações entre o que defende o espiritismo com outras doutrinas ou seitas, que praticam o mediunismo não à luz de Kardec. Daí a necessidade de existirem veículos que publiquem matérias, de preferência da atualidade, sempre à luz da doutrina fundada por ele em Paris, em 1857”, diz Aparecido Belvedere, que considera crescente o interesse pelas publicações espíritas pela grande divulgação pela mídia não-espírita em torno do filme sobre Chico Xavier. “Não acho que sejamos vítimas de preconceito, mas sim de um pouco de desinformação, inclusive por parte de grandes veículos. Há entidades, como a Federação Espírita, que procuram transmitir aos jornalistas esclarecimentos sobre as questões espíritas, sobretudo quando é publicado algo errado. Muito comumente confundem o espiritismo com a umbanda ou outras crenças parecidas, igualmente respeitáveis. Nem todos sabem ainda, por exemplo, que as palavras ‘espiritismo’, ‘doutrina espírita’, ‘espiritista’ e ‘espírita’ foram criadas por Allan Kardec. Assim como ‘centro’ ou ‘casa espírita’ são os nomes dos locais destinados à divulgação deste pensamento”, concorda Flávio Olive, redator do Serviço Espírita de Informações-Sei.


A idéia do Sei surgiu pela primeira vez em 1953, numa das reuniões realizadas em torno de Chico Xavier. O médium mineiro transmitiu a Jayme Rolemberg de Lima, um dos fundadores do Lar Fabiano de Cristo, o desejo do espírito Emmanuel, seu mentor, de se criar um meio para dar apoio aos pequenos jornais e programas espíritas de diferentes emissoras de rádio do interior e das grandes cidades. Assim, Emmanuel teria sugerido a elaboração de um boletim que, além de notícias, pudesse comentar matérias da grande imprensa e apresentar artigos de companheiros sobre temas doutrinários. Assim nasceu o informativo, primeiramente em português e esperanto e que é editado há alguns anos também em espanhol e inglês. Publicado originalmente pelo Lar Fabiano de Cristo, desde o ano passado passou para as mãos do Conselho Espírita Internacional, órgão ligado à Federação Espírita com circulação gratuita, via Correios e web.


O auxílio de dois seres de luz Usando um jargão do universo espírita, eles bem que poderiam ser considerados dois ‘seres de luz’. Certamente para este jornalista, a quem ajudaram a iluminar o caminho da apuração desta reportagem. Partiram deles dados fundamentais e a indicação de fontes e contatos. Todos absolutamente naturais. Tratamos aqui apenas de telefones e e-mails, que fique bem claro. O primeiro deles é Paulo Roberto Viola, 63 anos, advogado, jornalista e escritor, com diversos livros publicados, como Dom Pedro II e a Princesa Isabel, Uma Visão Espírita-cristã do Segundo Reinado, lançado em 2008 na Academia Brasileira de Letras, e que já se encontra na terceira edição. Também são dele Bezerra de Menezes: O Abolicionista do Império e Barão de Santo Ângelo, O Espírita da Corte, este lançado na ABI em novembro de 2009. Enquanto prepara seu próximo livro – Princesa Isabel, Uma Viagem no Tempo, também com inspiração espíritacristã –, Viola cuida da estréia da Revista do Espiritismo, cujo lançamento, ocorrido em 28 de março, durante seminário do médium Divaldo Franco, reuniu cerca de 3.500 pessoas. “Podemos dizer que o ‘produto’ espírita está em expansão. Produtores, editores, roteiristas e diretores estão cada vez mais surpresos com toda a explosão de audiência diante das produções que abordam este universo. Este ano, não só nosso popstar Chico Xavier está atraindo multidões, com o filme sobre sua vida e obra, que promete recordes de bilheteria. Também teremos uma telenovela de fundo espírita, às 18h na TV Globo, e, ainda, o filme Nosso Lar, baseado no livro psicografado por Chico Xavier, que entrará em cartaz no segun-do semestre. Em toda a grande mídia se ouve falar de espiritismo. Pelos menos uma operadora de tv a cabo já examina a possibilidade de inclusão de um canal específico em sua grade”, diz Viola. A produção Nosso Lar, citada por Viola, tem estréia prevista para setembro. Conta a história de um médico que acorda no mundo espiritual após a sua morte e acompanha sua jornada, desde os primeiros dias, numa dimensão de dor e sofrimento, até ser resgatado para uma cidade espiritual cujo nome intitula o filme, sob a direção de Wagner Assis. O elenco conta com Renato Prieto como André Luiz, Othon Bastos, Rosanne Mulholland, Fernando Alves Pinto, Inez Viana, Rodrigo dos Santos, Clemente Viscaíno e participações especiais

de Ana Rosa e Paulo Goulart.


Este último integra também o elenco de Chico Xavier, O Filme, dirigido porDaniel Filho e que reúne estrelas como Tony Ramos, Christiane Torloni, Luís Melo, Cássia Kiss, Giulia Gam e Letícia Sabatella, além de um impressionante Nélson Xavier, dando alma a Chico na última das três fases retratadas de sua vida (de 1969 a 1975). O médium mineiro também é interpretado por Matheus Costa (quando criança, de 1918 a 1922) e Ângelo Antônio (1931 a 1959). Perguntado se a mídia reflete de forma equilibrada a diversidade religiosa no Brasil, Paulo Roberto Viola adota um tom moderado, apesar de crítico. “Temos que entender que se a natureza não dá saltos, a evolução também não. A mídia reflete o nosso atual estágio cultural. Tivemos seis séculos de ‘Santo Ofício’. a dissolução dessa nuvem sobre a Humanidade nunca poderia correr de pronto. A Inquisição acabou o século XIX, mas ainda permanecem aguns de seus remanescentes. Desde o tempo de Machado de Assis, que tiespiritismomainha aversão ao espiritismo, por confundi-lo com feitiçaria e magia, sofremos discriminações, mas isso está mudando. Em breve, veremos autoridades da República e da vida civil participando de cultos, quando até recentemente só víamos essas personalidades em ofícios de uma só religião. Afinal, Dom Pedro II lutou muito para que o Estado brasileiro fosse laico”, diz Viola, para quem o Brasil possui cerca de 25 milhões de adeptos ou simpatizantes do espiritismo, constituindo o terceiro maior contingente religioso do País. Oceano Vieira de Melo foi o segundo guia desta matéria. Especialista no campo editorial espírita, alimentou a pauta com dados. “São mais de 200 publicações em todo o País. Todas têm publicidades de livros, psicografados ou não, mas sempre espíritas. Existem cerca de 5.600 títulos sobre a doutrina em circulação”, informa Vieira. Alguns de seus números, no entanto, inflacionam os apresentados por Viola. “Somos oito milhões de espíritas. Ou 30 milhões, se incluirmos na conta os simpatizantes. Espíritas são aqueles que praticam o espiritismo codificado por Kardec. Acreditam na vida depois da morte, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitáveis, e na evolução em cada encarnação, seja aqui na Terra ou em outros planetas. Sua evolução espiritual está em amar

seus semelhantes, na benevolência e prática da caridade sem esperar retorno. Somos cristãos e temos Jesus como modelo e guia para chegar até Deus”. E os simpatizantes? Qual o perfil deste grupo? “São aqueles que têm outra religião, mas vão ao centro espírita, tomam passe, lêem

um livro espiritualista pensando tratar-se de livro espírita... Às vezes, assistem a palestras no centro, mas seguem na sua religião. Ou seja, não querem compromisso, querem continuar na sua, obedecendo aos dogmas e rituais de sua tradicional formação familiar. A pessoa com esse perfil acredita em milagres, e acha que quando morrer vai para o céu ou inferno. Na realidade, é mais espiritualista, e não espírita. Os espíritas geralmente são pessoas de classe média e média alta.

Assinam jornais diários, revistas semanais e têm tv por assinatura”, descreve Oceano Vieira, ele próprio um simpatizante convertido. “Eu estava católico por tradição familiar e descobri que era espírita ao ler os livros de Kardec. O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Médiuns e A Gênese. Aí tudo ficou claro para mim. Foi notiespiritismo que eduquei minha sensibilidade para a arte do cinema, da música e todas as outras que engrandecem o ser humano como ser imortal”. Aos 59 anos, Vieira atua no ramo cultural cinematográfico. Fundou em

1985 o Jornal do Vídeo. Em 1999, lançou a Versátil Home Vídeo, para distribuir em dvds os filmes humanistas, de arte, brasileiros e, sobretudo, filmes europeus e espíritas. “Minha função é fazer documentários biográficos em vídeos de personalidades espíritas. É um campo vasto, quase inexplorado. Em abril, o CanalBrasil vai exibir nossos filmes, que retratam Chico Xavier, Eurípedes Barsanulfo e Divaldo Franco. Como espírita, sinto falta de matérias que falem de maneira respeitosa sobre os religiosos e as religiões em geral. A mídia costuma comparar os religiosos e as religiões

com os aproveitadores da credulidade do povo. Há muitos pastores sérios que nunca mereceram sequer uma linha nos jornais”, lamenta. Na verdade, reconhece Oceano Vieira, os maiores divulgadores do espiritismo no Brasil são mesmo os departamentos de jornalismo das televisões,

principalmente a TV Globo, e a chamada grande imprensa. “Com exceção da Veja, que costuma debochar dos espíritas. Chico foi o maior fato jornalístico do Brasil do século XX. Pena que alguns

colegas o vissem apenas como uma pessoa exótica, pois usava peruca, falava de amor ao próximo e era ligado a uma filosofia religiosa e científica. E muitos deles se preocuparam com o que

a Igreja Católica poderia dizer”, afirma. Vieira está envolvido em Chico Xavier, O Filme. “Levei a produção para conhecer o filho adotivo do Chico, assim como para mostrar a eles a simplicidade e a grandeza desse médium, que conheci pessoalmente em Uberaba, em 1984. Disse-lhes que Chico Xavier era maior do que eles imaginavam. Só se percebe sua grandiosidade quando se estuda ou pesquisa sobre ele. Disse ao Daniel Filho que ele tinha a grande oportunidade de fazer takes que o cinema nunca tinha feito. E que ele teria que assumir um risco, pois aquela cena seria algo

espiritual, que nenhum diretor jamais imaginara. Desejo que seu filme seja a maior bilheteria do cinema brasileiro este ano. Me arrisco até a prever uns cinco milhões de espectadores, mas pessoalmente acho que Nosso Lar tem tudo para ser o maior sucesso de todos os tempos. Quem viver verá”, aposta.


DVDS COMPLETAM O RESGATE HISTÓRICO


Exatamente com produção da Versátil, de Oceano Vieira, estão disponíveis no mercado três dvds sobre Chico Xavier, todos na linha documental. Pinga-Fogo com Chico Xavier recupera imagens

e áudio originais das duas participações do médium no programa da TV Tupi mostrado no filme. Chico Xavier Inédito: De Pedro Leopoldo a Uberaba reúne quatro filmes sobre o personagem, realizados em 1951, 1955, 1983 e 2007. Por fim, também está no mercado o dvd Saulo Gomes Entrevista Chico Xavier em 1968, que traz a sua primeira aparição de peso na televisão brasileira, gravada três anos antes da participação polêmica no Pinga-Fogo. Programa que, aliás, rendeu outro fruto. No dia 29 de março, Saulo Gomes lançou, em Ribeirão Preto, São Paulo, Pinga-Fogo com Chico Xavier. O livro, com organização do jornalista, traz a transcrição do programa. Em recente depoimento ao Jornal da Região Sudeste, Saulo recordou o seu encontro com o médium. “A missão parecia impossível. Vários repórteres, inclusive espíritas, tentaram, em vão, furar a grande barreira

que o separava da imprensa. Havia uma explicação para essa barreira. Chico, na década de 50, havia sido alvo de uma reportagem na revista O Cruzeiro, focalizando materialização de espíritos. Foi ridicularizado. Após tentativas frustradas, Chico aceitou conversar comigo, sem câmeras ou microfones. Segui para Uberaba com o caminhão de externa da Tupi, equipado com três câmeras e nove técnicos. Atendi a exigência e fui sozinho conversar com ele que, após a sessão, na Comunhão Espírita Cristã, me convidou para uma conversa, que começou às 22h30min e só terminou às 4 da manhã. Nos conhecemos, nos confraternizamos, e fechamos o compromisso de, na noite seguinte, gravarmos a sessão espírita e realizarmos a entrevista”. A reunião foi gravada com Chico

psicografando mensagem assinada por Emmanuel. Terminado o encontro, teve início a tão sonhada entrevista.“Mostrei, pela primeira vez na televisão brasileira e ao público espírita e não-espírita o Chico Xavier psicografando uma mensagem. O impacto da reportagem, em 1968, foi extraordinário. Grandes órgãos de imprensa repercutiram o acontecido. Depois disso, ele

passou a participar de alguns programas, sempre em minha companhia, inclusive em 1970, no Cidade contra Cidade, apresentado por Silvio Santos”, destaca Saulo Gomes.


Um Personagem Desconvertante Missão difícil a de Marcel Souto Maior. Contar a trajetória do médium responsável pela publicação de centenas de livros, que venderam cerca de 50 milhões de exemplares no Brasil, afora as inúmeras traduções. Chico Xavier esquivava-se da responsabilidade por tamanha produção. Nunca admitiu ser o autor de nenhuma dessas obras. Por isso mesmo, jamais recebeu um centavo por elas. Doava todos os direitos a instituições de caridade e organizações

espíritas. Tal como as cerca de 10 mil cartas por ele psicografadas, os livros seriam de autoria dos mortos, dizia. Diretor do programa Profissão Repórter, da TV Globo, Marcel, sem o recurso da mediunidade e apenas com o seu talento de jornalista, arriscou-se a escrever As Vidas de Chico Xavier. Referência, o livro serviu de base para o roteiro de Marcos Bernstein para o filme a cargo

de Daniel Filho.”Atuei como consultor e, confesso, quase não tive trabalho. Desde o primeiro tratamento estava tudo ali. Ambos acertaram no tom e na estrutura do texto, já de primeira. Costumo dizer que não terei aquela vaidade de autor: a de ouvir espectadores saírem das”.

salas de exibição e dizerem que o livro é muito melhor do que o filme! As obras são similares. Fico feliz. Dá orgulho ver a história de Chico tão bem retratada, com tanto equilíbrio e honestidade”. Apesar do interesse pelo tema, Marcel não acompanha o mercado editorial espírita. “Não costumo ler essas publicações. É difícil fazer uma avaliação responsável. O que posso dizer é que conheço jornalistas da área e respeito muiorto a postura deles. Eles estudam o espiritismo com cuidado e estão sempre atentos a um dos dogmas da doutrina: o da ‘fé raciocinada’. São críticos e não

ficam presos a preconceitos que, muitas vezes, cegam e paralisam”.Como era a relação de Chico Xavier com a mídia? “Ele viveu diferentes fases na sua relação com a imprensa. No início de

sua trajetória, foi alvo de investigações jornalísticas quando lançou o primeiro livro atribuído a espíritos, a coletânea de poemas Parnaso de Além-Túmulo. E foi vítima da dupla David Nasser

e Jean Manzon em reportagem irônicailustrada por fotos humilhantes na revista O Cruzeiro, durante o processo movido contra ele pela família do jornalista Humberto de Campos, morto e um de seus ‘psicografados’. Em 1971, esta relação mudou radicalmente quando surgiu diante das câmeras da extinta TV Tupi no programa Pinga-Fogo, episódio bem explorado no filme de Daniel Filho. Era um fenômeno de audiência na época. Chico foi sabatinado por espíritas e não-espíritas por mais de três horas, ao vivo. Falou de temas variados, de drogas a homossexualidade, e se transformou numa celebridade nacional”, relata Marcel Souto Maior. Nos anos 1980, Chico foi homenageado em especiais da TV Globo, dirigidos por Augusto César Vanucci. Respeitado, ganhou espaço em programas populares, como o de Gugu Liberato, e em revistas de celebridades, onde aparecia

ao lado de visitantes como Xuxa e Roberto Carlos. “A história de vida dele, coerente do início ao fim, derrubou preconceitos e gerou credibilidade. Escreveu 420 livros, vendeu mais de 25 milhões de exemplares em vida e doou a renda a instituições beneficentes. ‘Os livros não me pertencem.

Eu não escrevi nada. Eles, os espíritos, escreveram’, repetiu até morrer na cama estreita de seu quarto simples, em Uberaba, em 30 de junho de 2002. Aos que diziam que, cedo ou tarde, cairia desmascarado como fraude, afirmava: ‘Não vou cair, pois nunca me levantei’. Idoso, agradecia:

‘Graças a Deus, aprendi a viver apenas com o necessário’. Por essas e outras, Chico é um enigma que desconcerta os céticos”, define Marcel.


(Texto recebido via email de Vice Presidente da Rádio Rio de Janeiro vicepresidente@radioriodejaneiro.am.br)

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